Publicado em 04/02/2019 | Atualizado em 21/02/2022
Nada mais justo do que usar a coluna política deste site, que diga-se de passagem é o mais confiável da região justamente por não estar na lista de pagamento de nenhuma prefeitura ou câmara de vereadores, para explicar que grupo é esse que movimenta a política do município de um jeito tão incisivo e visceral que assusta a classe política que desgoverna a cidade. Já falei, mas não custa repetir, que o movimento cultural não é um grupo de oposição e nem é braço da oposição, basta ver as críticas dirigidas contra a inércia, incompetência, silêncio sepulcral ou animação funerária do grupo da oposição partidária. Então, para responder a maioria das perguntas, decidi começar essa nova fase tanto dos artigos deste site quanto do Movimento Cultural com um texto que explique o que é esse grupo. Quem quiser mais informações deve acessar o www.movimentocultural.org.
A primeira coisa que a maioria desconhece é que o movimento cultural começou explicitamente em 2011 comigo e com meu irmão, Jotta-Jotta, em São Paulo, mas implicitamente ele existia desde 2006, quando um Filme chamado de O Dragão Brasileiro organizado e dirigido por mim deixou claro que a culpa da entrada de drogas na cidade era do governo municipal. Inclusive, em uma das falas, numa conversa na beira da serra da bica um dos personagens diz: “Tá vendo essa cidade? É muita violência, aqui João compra tudo, até os policiais” (..) “tem que aparecer um cara bom de luta para acabar com isso”. Ninguém notou, mas o aviso estava lá! O outro personagem responde: “Eu posso morrer, mas eu vou acabar com isso”.
Posteriormente a turma da periferia panelense, e claro eu estava no meio, começou um movimento artístico de rock. Minha ideia era simples, mas bastante promissora. Somente um estilo musical costuma criticar, cutucar e até ofender políticos com veemência, o rock in roll. Foi aí que montamos uma banda de rock, subimos no trio do próprio prefeito da cidade e cantamos músicas como “que pais é esse? (legião Urbana); Alvorada Voraz; Revolução por minuto (ambas do RPM). E pior, ainda dissemos em alto e bom som antes de começar nosso show: “Onde todo mundo pensa igual ninguém precisa pensar muito”. Fomos aplaudidos calorosamente pelos próprios sergianistas que não estavam entendendo e adoraram a banda. Pobres sergianistas, me achando doido, enquanto eles estavam com, pelo menos, vinte anos de atraso em relação aos meus planos. Chegamos ao número de, pelo menos, quatro bandas de rock no município.
Chegou uma hora que percebi que para lutar, eu precisaria treinar mais, adquirir conhecimento, aprender coisas que eu não poderia aprender em Panelas. Peguei o avião e cheguei em São Paulo com uma mão na frente e outra atrás. Numa conversa com meu irmão supracitado durante um jogo de xadrez, percebemos que assistimos durante muito tempo do banco dos espectadores a expulsão dos panelenses de sua terra natal pela falta de oportunidades profissionais, pelo atraso político e econômico. E no nosso entendimento, isso nada mais era, e ainda é, que a exportação de mão de obra qualificada para desenvolver outras cidades e regiões.
Profissionais qualificados, artistas musicais, poetas, pensadores, juristas e historiadores foram perdidos, vilipendiados, aviltados ou escondidos pelos coronelistas e políticos, cujo único objetivo era se manter no poder e enriquecer às custas da população carente de cultura, educação, saúde e, sobretudo, representação. Analisando com cuidado a conjuntura política e social da cidade, notamos que existia uma certa complacência silenciosa provocada pelo medo. Os artistas, professores, estudantes e intelectuais quando não eram comprados, eram silenciados pela opressão político/ideológica da cidade e que os ditos “oposicionistas” se pronunciavam meramente em ano de eleição.
Diante disso, decidimos, que deveríamos combater diretamente o descaso com a coisa pública, combater a corrupção, combater o sergianismo e a coisificação dos panelenses por parte da oposição. Decidimos provocar um levante no debate, mas para isso precisávamos provocar uma onda de coragem, anseio pela mudança, dedicação e luta. Precisávamos movimentar as pessoas para o exercício da cidadania por meios democráticos. Para isso precisaríamos de uma revolução. Chamamos essa primeira fase de Revolução Cultural Panelense.
Por motivos pessoais, e mudanças nos objetivos, Jotta-Jotta seguiu outro caminho, é formando em história e pretende escrever sobre a história do município e da cultura regional. Eu, por outro lado, advogado, formado em direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas e em filosofia, decidi juntar cidadãos que sentiram na pele os males provocados pela corrupção, pelo descaso com a coisa pública, pelo despotismo provinciano tão conhecido e, infelizmente, ignorado no país; sobretudo, no interior nordestino. Eu precisava representar pessoas comuns que decidiram marchar na contramão da cultura local e capitanear o próprio destino.
O objetivo principal é provocar uma mudança, no sentido de modificação, da atual cultura do caudilhismo, da apoteose do alcoolismo, da bebedeira, do desrespeito, da deseducação, da falta de cultura cientifica e do empobrecimento das instituições públicas, como também do desprezo pela vida humana. A ideia é migrar dessa atual cultura nefasta para uma onde se valorize a alta cultura, se aprimore a democracia, se amplie o debate, a transparência e possibilite o amplo acesso ao conhecimento, ao mercado de trabalho e ao desenvolvimento social. Busca-se diminuir a banalização da vida atualmente provocada, principalmente, pelo alcoolismo, pelas drogas ilegais, violência e politicagem. O movimento é para mudança da cultura que atualmente se mostra longe de nossas raízes e se apresenta, basicamente, como uma das formas de manutenção do poder dos coronéis e da dominação do povo.
Chega de somente importarmos cultura de outras regiões, aceitamos todo tipo de produção cultural que vem de fora, ainda que de péssima qualidade, enquanto não consumimos nem exportamos culturalmente nada que, eventualmente, produzimos no município. Até mesmo os políticos que se elegem na cidade não evoluem e não se elegem para deputado, senador, governador; pelo contrário, se aposentam nela e permanecem inertes como um câncer que mata vagarosamente a esperança do povo.
Sendo Panelenses e entendendo o município como uma terra de guerreiros, batizados com fogo e testados no calor da batalha da Guerra dos Cabanos. Sabendo que Panelas foi palco principal de muitas outras batalhas e conhecida documentalmente como o último reduto cabano. Decidimos que deveríamos resgatar, cuidar e medicar o espírito moribundo de outrora até que sua total recuperação. Ouvimos o conselho do sábio que dizia que para mudar o mundo precisávamos mudar primeiramente a nós, depois nossa casa e seguir caminho. A parte “panelense” do nosso nome demarca onde tudo começou, já que nós fomos nos mudando concomitantemente na medida em que tentamos mudar Panelas.
Em 2014 fui convidado por Guilherme Amarino, criador do Panelas Pernambuco, para escrever para este site e assumir a coluna política. Topei e aqui estamos há mais mais de quatro anos. Também escrevi para um jornal chamado A voz dos Cabanos. O jornal se foi, mas o www.panelaspernambuco.com se manteve firme.
Em meados de 2016, entendendo que a revolução fora feita, já que houve de fato uma ruptura abrupta na complacência silenciosa, pois depois dessas ações outras pessoas começaram a se insurgir, falar, postar críticas ao desgoverno nas mídias sociais, colaborar com informações para o movimento, coisa que em 2009 era impensável; a Revolução Cultural Panelense passou a se chamar Movimento Cultural Panelense. A lógica é que a revolução ocorre com há uma ruptura abrupta de um sistema, mas ela não se mantém continuadamente, caso contrário viveríamos em permanente anarquia. Já o Movimento é um caminho contínuo e eterno. Em 2018 O “panelense” é suprimido do nome, encerra-se a segunda fase e começamos a terceira e última fase que chamamos apenas pelo nome genérico de Movimento Cultural. Vamos alcançar todo o Estado de Pernambuco.
Hoje, o Movimento Cultural conta com centenas de membros e colaboração de dezenas de pessoas que apoiam a ideia. O objetivo do Movimento Cultural é deixar os caminhos abertos para que a próxima geração possa tomar o lugar da atual e assumir o controle do contínuo crescimento e evolução de Pernambuco. Estamos lutando por uma mudança que talvez nem estejamos vivos para ver. Você pode não ter notado, mas esse texto começou com um “eu”, depois “meu irmão e eu”, depois “nós panelenses” e finalmente em “todos nós pernambucanos”. Se eu pudesse dizer mais alguma coisa para explicar o Movimento Cultural, eu diria simplesmente:
“Lutem e lutem novamente até que cordeiros se tornem leões”
Coluna Política // Por Pierre Logan
Advogado, Bacharel em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas. Pós-graduando em Direito Processual Civil pela Escola Paulista de Direito. Filósofo e licenciando em filosofia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Membro do Seminário de Filosofia – Olavo de Carvalho e da Jovem Advocacia de São Paulo. Compositor e intérprete, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente faz parte do Sindicato dos Compositores e intérpretes do Estado de São paulo, também é comentarista político na Trianon AM 740 e colunista do Jornal SP em notícias.
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