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UMA GRANDE TRAGÉDIA EM PANELAS

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Publicado em 19/06/2017 | Atualizado em 21/02/2022

O menos errado seria que o título deste texto fosse “mais uma das grandes tragédias em Panelas”, no entanto, ficaria longo demais e não impactaria da forma que esperamos. Honestamente, se a realidade não impacta o povo da cidade duvido muito que qualquer coisa o faça. O mundo não anda complicado, ele é o que sempre foi. Nós seres humanos nos perdemos na simplicidade dos mais sucintos detalhes e nos entregamos lentamente aos labirintos mentais mais singelos. Não percebemos o quanto perdemos de importante por negligenciar fatores cruciais, porém, quase que imperceptíveis. É justamente por considera-los bobagens que estragamos quase sempre tudo.

Chama-se de tragédia todo gênero dramático que trata das ações e dos problemas humanos de natureza grave. A tragédias geralmente envolvem questões sobre moralidade, o significado da existência humana, as relações entre as pessoas e as relações entre os homens e seus deuses. Geralmente no final das tragédias, o personagem principal morre ou perde seus entes queridos.

Do que estou falando…. Dizem que imagens valem mais do que palavras. Eu digo que vai depender muito da imagem e das palavras. Enfim, diferente dos outros textos que geralmente escrevo aqui, este será uma mera complementação das imagens que postaremos. A leitura aqui será principalmente visual.

A imagem ao lado mostra uma parte da estrutura feita no aterro do açude. Trata-se de uma obra que dura nada menos que 10 (dez) anos (começaram a aterrar o açude em meados de 2007). A parte que você está vendo mostra um pedaço da quadra e um dano grave causado pela ‘primeira grande chuva’ na quadra da chamada ‘academia da cidade’. Não preciso descrever mais, pois a imagem diz mais que qualquer palavra que eu possa colocar aqui.

Agora que você olhou bem a imagem, eu volto com as palavras para evidenciar o que está além das míseras mil palavras dita pela imagem. Não é uma rachadura numa estrutura de concreto apenas. É uma rachadura na moral do povo de Panelas. É uma rachadura na estrutura social de um povo que perde um açude para um amontoado de entulho e paga caro para caminhar na beira de um esgoto a céu aberto e receber uma quadra feita com  absurda falta de vontade. Sejamos sinceros, o povo panelense merece mais que isso.

 Se depois de ler essas coisas você ainda achar que é coisa simples e que não mereceria mais que poucos segundos de nossa atenção, então, pode parar de ler o texto e voltar a rolar sua página do Face ou mandar mensagens pré-fabricadas pelo whatsapp para pessoas que verdadeiramente não te dá a mínima importância e verdadeiramente nem você a elas. Nada mais importa além da imagem que transmitimos. 

Há um véu entre as classes, entre as pessoas, entre as vidas, entre as relações humanas banalizadas pelo não-viver e parecer ser para ser. Isso não é mais que o óbvio, mas o óbvio; aquilo que deveria nos trazer indignação e nos causar espanto. Os antigos pensadores chamavam a capacidade de “começar a aprender” de “primeiro espanto”, ou seja, aquilo que nos surpreendia a um ponto de nos trazer curiosidade para buscar respostas. Na minha opinião, esse é o primeiro passo para se começar uma revolução em si. Uma evolução pessoal.

Qual seria o primeiro espanto aqui? Seriam muitos espantos na verdade. De onde veio a verba? Quanto foi gasto? Quais as empresas vencedoras da licitação? Quem são as pessoas ligadas a essas empresas? Qual o maquinário usado e de quem foi? (essa seria a maior surpresa dos distraídos).

  

Uma dica de quem sabe do que está falando: se distrair no tocante a como estão tratando os bens públicos, o dinheiro público etc., se distrair no que concerne a ser governado por pessoas medíocres e pobres de espírito. Se distrair com pessoas que não pensam em nada mais que a manutenção do poder e de como fazer para ganhar a próxima campanha eleitoral. Se distrair com desgovernantes de caráter duvidoso, não é se distrair de maneira propriamente dita, mas sim se trair. Quando você se distrai no que diz respeito aos pontos supracitados, você na verdade se trai, se engana, se mutila, se entrega, nega-se a si mesmo e corrói o corpo social que vai oferecer lixo no lugar de comida. É preciso entender que o que vemos não chega nem perto de ser apenas a ponta do iceberg.

A verdade está escancaradamente exposta na sua cara. Você, panelense, está sendo enganado diariamente. Estão tomando o melhor de você. Estão te roubando mais do que você consegue contar. Estão te tirando mais que uma chance de você ser quem você é. Estão te roubando tudo. Te roubaram o emprego, a paz, o pensamento, o sossego e, pelo que vejo todos os dias, te roubaram a voz e te ofereceram o medo em troca. Você aceitou. A evolução tem que começar por nós, seja no espanto que enseja curiosidade construtiva ou seja no rompimento do silêncio criminoso. Existem muitas tragédias acontecendo neste momento em Panelas, mas o próprio povo anda protagonizando tudo. São os personagens principais desta tragédia. Volte ao final do segundo parágrafo deste artigo e lembre-se do que acontece com os personagens principais nesses casos.

Coluna Política // Por Pierre Logan

Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. OAB-SP 218968E.


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