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PARA O POVO DE PANELAS, COM CARINHO

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Publicado em 26/12/2016 | Atualizado em 21/02/2022

Muita gente sabe quem sou, mas desses muitos apenas uns poucos têm um pouco de razão sobre a possibilidade de me conhecer. Falo de mim numa carta para o povo não para que saibam de mim, mas para que saibam que me vejo no povo. Nasci em Panelas. Sou nativo. Panelas é para mim o todo que se fragmentou e constituiu cada molécula existente em mim mesmo. O barro modelado pelas mãos de Deus no momento da criação de homem. No momento da minha criação. Imperfeito. Incompleto. Insaciável. Panelas foi durante um tempo a única cidade existente no mapa. Não havia norte nem sul porque não havia destino possível de se imaginar longe dela. Era aquele o ponto onde as linhas se cruzavam. Meu ponto de partida era o meu ponto de chegada. Tal qual as raízes de Kant naquela cidadezinha pacata dele, pensei que poderia abraçar o mundo sem soltar Panelas. Que erro inocente…

Curiosa é a história do nosso povo. Famílias importantes quiseram descansar nessa terra. Fizeram promessas, guerras, missas, cruzadas inimagináveis por dentro das matas que sempre foram nossa imagem mais marcante. Marcaram com dinheiro, sangue, chumbo e esperança o coração de uma maioria que suava debaixo do sol. Na sangrenta Guerra dos Cabanos nosso povo se uniu. Aqueles esfomeados, índios e negros resistiram. Eram pessoas simples e famintas, porém livres. Os políticos e generais que comandavam as investidas contra aquelas pessoas não conseguiam compreender o que as deixava de pé. As imagens religiosas e a cruz transportada mata a dentro davam uma ideia. Demoraram para descobrir que aquele povo não temia homens bem armados porque sabiam que o preço da liberdade era a morte e que somente Deus conhecia os anseios dos corações famintos dos que lutavam. Agarraram-se a fé que dava coragem porque no fundo sabiam que Deus não tinha (e não tem) compromisso com covardes.

O tempo passou e curiosamente aquela primeira geração de panelenses começou a brigar entre si. Desde o começo nossa cidade, que servia de abrigo para índios, estava dividida em “tribos”. A política refletia essa divisão desde os primórdios. Caim e Abel haviam transportado sua história para nossa história. Irmão passou a matar irmão. O povo que se uniu para enfrentar a maior de todas as injustiças, estava dividido pela maior de todas as injustiças: poder a qualquer custo.

O tempo continuou passando porque ele é o rolo compressor que atropela os acontecimentos como uma grande máquina de triturar presente e fabricando passado corre em direção a um futuro misterioso. Panelas não teve um crescimento geográfico significativo, mas cansou de se defender e entregou-se completamente aos que ganharam a “guerra do poder”. A prova da rendição é mais expressa do que parece, pois está contida em nada menos que no hino da cidade. Ouçam ou leiam com atenção e reflitam sobre o assunto principal do hino. Verão facilmente que não se trata de uma apologia à cidade, nem a sua história, mas sim a seu fundador. Desde cedo escolhemos nossas preferências. Quase nunca optamos pelo todo.

Chegamos, meus irmãos, ao presente se é que algum dia deixamos de estar nele. Hoje continuamos com as algemas voluntárias da submissão. Temos uma sociedade dominantemente cristã que possivelmente não entendeu a mensagem do Cristo. Tocamos nossa vida quase sempre dentro do aceitável dos olhos daqueles que nos observam. A angústia é tão imensuravelmente mortal que as mesmas pessoas que concordam em defender o sistema embriagam-se com frequência. Fuga da realidade? Amor pela bebida? Cultura local? Impossibilidade de enfrentar com sobriedade as escolhas ruins? Difícil dizer em que ponto da curva saímos da estrada.

2017 não tem força de mudar absolutamente nada. Talvez ofereça para os que viverem até lá uma relativa possibilidade e isso é o menos importante. O que importa é a mudança que fazemos dentro da gente. É a transformação paulatina e diária que uma vez provocada em nós não nos permite parar. Somente a percepção de nossa própria insignificância pode nos tirar do trono almejado da high society e nos jogar novamente de pés no chão para dar a mão ao nosso irmão caído. O amor pelo próximo que refletido em nós acaba iluminando o caminho de cada um é o GPS da solidariedade que transforma o mundo. 

Precisamos buscar a união há tempos perdida e nos juntar para abraçar a causa do nosso irmão que é a nossa também. Fiéis escudeiros das gerações que virão; cabe a cada um de nós deixar o município menos ruim para ao que vierem depois de nós. Precisamos de união porque uma guerra entre irmãos é desde um começo uma guerra com perdedores de todos os lados. Aceitemos desde já a maior missão que um ser humano pode ganhar nesta terra: cuidar de outros seres humanos. 

Coluna Política // Por Pierre Logan

Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. OAB-SP 218968E.


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