Não me recordo, lamentavelmente, onde aprendi, mas me lembro da lição que socou o meu estômago e despejou na minha corrente sanguínea adrenalina suficiente para tornar qualquer salto de paraquedas um calmante para minha vida. Resumindo em uma máxima fica: “A dor é inevitável. Sofrer é opcional”. Foi coisa recente, mas ser recente não significa que é necessariamente efêmero. É dessas lições que perfuram nossa carne, quebram alguns ossos e vira tatuagem na alma. Como nada é por acaso, alguns jovens panelenses (sem combinar, pelo jeito) vieram até mim, cada um de maneira individual, desabafar sobre os problemas existenciais que afloram nas pessoas inteligentes que crescem numa cidade cada vez mais imbecilizada. Seja como for, espero que minhas palavras não combatam os efeitos, mas, principalmente, a causa. E as causas são, especialmente, as políticas públicas.
“A dor é inevitável. Sofrer é opcional”
Em primeiro lugar, as pessoas de Panelas são boas, inteligentes, capazes e foi justamente seu excesso de bondade que fez a nossa cidade regredir. Acreditamos num indivíduo e cometemos o erro de reelegê-lo tantas vezes quantas foram precisas para viciar toda uma geração que envelhece sem conhecer outro modelo de gestão. Um cidadão que tenha pouco mais de vinte anos não conhece outro jeito de fazer as coisas. Mantivemo-nos expostos a determinadas condições durante tanto tempo que esquecemos que a continuidade da exposição pode provocar câncer. O desenvolvimento passa cada vez mais longe de Panelas. Sabe o motivo? Exportação de mão-de-obra qualificada.
Panelas abre todos os tipos de oportunidades para quem queira puxar o saco de politiqueiros e fecha todas as portas para quem quer trabalhar de verdade. Diga-se de passagem, que quem quer trabalhar de verdade ainda é maioria e essa maioria acaba saindo da cidade para trabalhar em outros lugares; São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Caruaru e até para cidades menores, como Cupira ou Jurema. Quantos Panelenses saem de Panelas todos os dias para trabalhar em cidades vizinhas? Muitas. Pessoas saem para estudar, trabalhar, se divertir, descansar etc., para que fica então a cidade? Para honrarmos o lugar que nascemos e, muitas vezes, porque nossos pais se recusam a sair, mesmo sabendo que “não tem futuro”.
Longe das poses dos narizes empinados dos funcionários públicos municipais (geralmente contratados) temos gente de verdade que não sabe o que é esse “espírito” ruim que parece não deixar o município. Pessoas cansadas vivem cada vez mais entregues a depressão (e existem várias formas de depressão) enquanto outras acham que o melhor e se dar bem e mostrar o quão bem estão em estar “do lado que vence” em detrimento da maioria da população. A população foi tão viciada pela corrupção sergianistas que nem estranha o fato de ser chamada de “carente” por mais de duas décadas. As mesmas “autoridades” que chamam a população de carente, governam nosso município tempo suficiente para, pelo menos, serem as responsáveis pela “carência” das pessoas.
“A população foi tão viciada pela corrupção sergianistas que nem estranha o fato de ser chamada de “carente” por mais de duas décadas”
O que há então? Por que o mercado de trabalho piora as condições das pessoas que querem trabalhar até o ponto de terem que optar por trabalharem fora? Por que as pessoas estão simplesmente escondendo o desespero e a mediocridade por detrás das aparências mesquinhas, do rosto prepotentemente empinado e das bebedeiras ostentadoramente ridículas que promovem? Por que não olhamos para o outro com o olhar de quem quer contribuir para melhorar o mundo para cada um de nós? Por que temos que optar pelas brigas partidárias, hipocrisia grupal e culto da imbecilidade? Por que não podemos simplesmente crescer como seres humanos e tocar a nossa vida com dignidade sem precisar pisar nos menos favorecidos? Por que ainda cultuamos os “doutores” que nada fazem para merecer nosso respeito, mas desrespeitamos o cidadão comum que merecem nosso respeito mesmo sem dizer nada? Por que não vemos o outro em nós? Por que não entendemos de uma vez por todas que uma sociedade só se constrói solidamente quando a base (o povo) está firme, forte e segura de si?
Nosso maior pecado (e pecado quer dizer simplesmente “erro”) foi valorizar muito os que estão no “poder” e humilhar demais os que deram o “poder” aos que pelo tempo nele aprenderam a nos dominar. Nosso maior engano foi confiar em quem nunca se dedicou ao povo. É assustadoramente simples. Observe que os que nos governam há anos ficaram ricos e que sua riqueza não bate com o salário que recebiam. Não tiveram tempo para cuidar do povo e ficarem ricos ao mesmo tempo e, se ficaram ricos, é porque não estavam cuidando do povo e é por isso que somos os “eternos carentes.
“Se você não optar pelas dores da luta, terá que encarar as dores da derrota”
Podemos mudar isso, mas para semente se transformar em árvore precisa se destruir. Não é possível mudança sem dor, sem desconforto, sem sofrimento. Não é possível construir coisas verdadeiramente honestas sem suar, trabalhar. As vezes precisamos dar a vida para que nossos filhos tenham algo melhor que nós. A dor é inevitável, meus amigos. Se você não optar pelas dores da luta, terá que encarar as dores da derrota de quem perdeu sem lutar. Se não quiser trilhar o caminho de quem sofre para ter algo melhor, terá que enfrentar o sofrimento de quem não teve algo melhor. Sofrer é opcional, pois viver em função da dor que estamos sentindo é questão de escolha nossa. Para mudarmos nossa realidade precisamos antes de tudo mudar de postura. Sem dor não existe crescimento. Valorize a vida, as pessoas e pare de aplaudir político. Sempre temos que lembrar de dar a César o que é de César e de dar a Deus o que é de Deus.
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. Contato: [email protected]