Publicado em 26/02/2018 | Atualizado em 21/02/2022
“…o remorso crônico é um dos sentimentos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor da próxima vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo. ” É assim que começa o Admirável mundo novo, clássico da distopia do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963). Sim, esse livro foi o que provavelmente inspirou o compositor Zé Ramalho a escrever a música Admirável gado novo, assim como inspirou a cantora e compositora Pitty a escrever Admirável Chip Novo. Pelas referências influenciadas pelo livro supracitado, está claro que não estou “viajando na maionese” quando trago elementos da ficção para a realidade, afinal, essa última é sempre mais inventiva que a ficção, mas o que essa obra literária inglesa escrita em 1931 e publicada em 1932 tem a ver com a ficção política panelense atual?
A primeira relação do livro com a realidade política do município de Panelas é que tanto o livro quanto a política panelense não passam de ficção. Tudo montado. “Oposição” (pelo jeito, eternamente entre aspas), situação, enfim, um monte de indivíduos programados, comprados e vendidos atuando e trabalhando no papel recebido para o teatro do jogo baixo. A população finge que as cenas são partes da realidade, pois assim como os grupos apresentados na obra do Huxley, foram condicionados para isso. O povo sempre será conduzido ou para um lado ou para outro, e, terá sorte (como geralmente acontece na história do mundo) quando em vez de um déspota aparece um estadista para guia-lo. Os cidadãos sempre serão “os filhos do meio da história” porque ficam perdidos entre a coragem da mudança de postura, a covardia do medo da mudança de postura e suas consequências e o idiotismo do “vou ficar no meu canto e tomar conta da minha própria vida”. Todos esses esperam fazer omeletes suculentos sem quebrar um só ovo.
O livro trata de uma sociedade organizada para cumprir determinado papel, separadas e organizadas em castas biológicas definidas desde o seu nascimento. Em Panelas acontece a mesma coisa. O critério não é a competência, mas se “fulano” é filho, sobrinho, neto ou, no mínimo, indicação de “sicrano”. A realidade panelense, assim como na ficção do Huxley, a literatura, a música etc., é usada apenas para solidificar o espírito de conformismo. Já viram pessoas de secretarias desfilando com uniformes pelo centro da cidade em pleno horário de serviço? Pois é, no livro cada um também tem sua cor de roupa. A realidade do Admirável mundo novo se diferencia muito da ficção política de Panelas porque no livro a sociedade é dominada pelo progresso científico e nossa cidade pelo atraso coronelista. Enfim, não vou forçar a barra e nem escrever muito sobre o enredo do livro, até para não dar spoiler para os espíritos avançados que buscarão imediatamente a obra classificada como o 5° livro em uma lista de 100 melhores romances da língua inglesa pela Modern Liberary (1999). Sejamos pontuais.
“A distração é normal numa sociedade manipulada pelos que distraem”
Lembro-me com certa ironia da época em que comecei a me interessar pelos estudos. Depois do ensino médio. Muitos amigos e conhecidos precipitavam-se em tentar me socorrer: “homi, para de ler. Você vai ficar doido”. Também tinham os típicos exemplos: “Você não sabe que o filho de “beltrano” era normal e endoidou depois que começou a estudar demais? ”. Era interessante a aversão que Panelas tinha para com pessoas que tentavam buscar instrução de maneira mais assídua. Eu lia durante uma madrugada inteira e quando ficavam sabendo, apressavam-se para dizer que eu ficaria louco. Eles passavam a mesma madrugada nas festas, na bebedeira, nos puteiros da vida, mas com eles tudo certo. A distração é normal numa sociedade manipulada pelos que distraem.
“Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo”
“Não são os filósofos, mas sim os” bêbados, analfabetos, políticos corruptos, idiotas úteis que constituem a espinha dorsal da sociedade panelense. Hoje está explicado o medo que eles têm para com aqueles que estudam. Mas qual a visão dos ignorantes acerca da ignorância ou da sabedoria? Qual será, entre essas duas, sua preferência? Construíram uma sociedade hipócrita onde a bebedeira é uma virtude e roubar para ficar rico é válido, pois ser pobre (ainda que honesto) é o maior defeito. Por acaso não sabem, ou não assumem que: “os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo? ”. Erramos! E qual o outro meio de acertar senão admitindo que erramos? Pecamos por omissão. Pecamos por excesso de paciência. Pecamos por ignorância. Pecamos por comodismo. Erramos pelo não envolvimento.
O que mais me incomoda é que somos governados pelas pessoas mais estúpidas da sociedade. Não temos no poder pessoas com alinhamento intelectual ou moral para guiar os passos da cidade para o progresso. Temos pessoas mesquinhas, fracas e sem postura moral para serem exemplos de nada. Muitos olham para “cima” e pensam: “eu queria ter o dinheiro dele…”, “ter a casa que ele tem…, “ter a vida que ela tem…, ter…, ter…, ter…, não são modelos de pessoas. Não queremos ser o que os governantes são porque no fundo sabemos que são pessoas vazias, ocas e que nada são além do que têm. Não são pessoas que nos inspiram. Não nos ajudam, com seus exemplos, a sermos pessoas melhores. Nós que julgamos loucos os que estudam e achamos cara a educação, esquecemos de calcular quanto custa a ignorância.
Autômatos. É disso que é composta a sociedade panelense. O comodismo é a regra principal. Mesmo quando a população deveria ter todo interesse de agir, ela permanece inerte e quando alguém reage é tomado como louco. Querem um exemplo? Quantas vagas a lei aprovada pela câmara disse que o concurso público teria? Quantas vagas realmente foram abertas? Quem tocou no assunto até agora? Oposição? Situação? Povo? Não. Os legitimamente interessados estão felizes (apesar da infelicidade). Estão distraídos demais para lutarem pelos seus próprios direitos. Querem saber? É admirável como nada de novo acontece na cidade quando se deixa o silêncio falar mais alto. Graças a Deus existem os loucos! Mas estes estão fora do livro, fora da caixa e nunca são bem-vindos. Experiência própria.
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. Contato: [email protected]
Sugestão de livro:
Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras ‘pai’ e ‘mãe’ produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Leia mais!
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