“Quem caminha com os sábios torna-se sábio; quem se junta aos insensatos torna-se mau.”
Quando falamos em moral estamos nos referindo às normas de condutas, costumes e juízos de valor vigentes nos campos sociais. A finalidade, em sentido muito, muito, mas muito estrito é: determinar a partir de critérios considerados universais a convivência com os outros.
Não confundamos o conceito de ética com o conceito de moral. São coisas diferentes e faço essa ressalva apenas pelo fato de terem sido usados indistintamente como sinônimos ao longo da história da filosofia. Ética é a ciência que estuda o comportamento moral e não um conjunto de preceitos que devem ser seguidos. É uma espécie de “consciência” da própria moral. Digamos que a ética deve ser entendida como a discussão que busca a resposta mais adequada possível, uma reflexão compartilhada para buscar a melhor forma de se conviver.
Pensei em escrever esse artigo após ter ouvido o vereador Mica (PP) ter dito que “só vota agora em quem vai ganhar”. Longe de querer dar uma de Michel Foucault e descrever a ordem do discurso, não sou da área da linguística e, fazer isso, seria o mesmo que dizer que existe uma ordem no discurso desse indivíduo, ou dizer que o discurso dele é em si uma construção linguística que estaria atrelada ao contexto social e que foi desenvolvido sistematicamente levando em conta esses fatores. Bem, não é o caso. A meu ver, a frase, não chega se quer ao utilitarismo de John Stuart Mill, pois este previa uma felicidade, ou se preferir, vantagem para o maior número de pessoas mediante uma ação e o que foi dito pelo nosso representante poderia hipoteticamente ser traduzido como: sou um inútil pusilânime e por isso necessito agarrar-me ao vencedor (como um parasita).
Não tenho a intenção de tripudiar nosso ilustre representante, pois sempre admirei sua capacidade de falar muito e não dizer nada e de ficar sentado fazendo patavina, mesmo tendo muito que fazer. Todavia, e já que os “fins justificam os meios”, ele está corretíssimo, pois é exatamente isso que o povo quer que ele faça quando o reelege. Mica age conforme sua natureza, o princípio da contingência, aparentemente, não serve para ele.
Não obstante, se falarmos em moral não se pode negar à conversa, a influência do filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804) já que é justamente aí que entra a parte dos “fracassados”. O imperativo categórico desse que foi um dos grandes, se não o maior, pensador da moral, tem três formulas e nenhuma pode ser aplicada a frase do vereador.
Mas como podemos mostrar a obtusidade da frase dita por Mica? Podemos utilizar alguns exemplos e mostrar que a frase é de uma cretinice incomensurável. Imagine que um estuprador grande, forte e bruto esteja perseguindo uma mulher frágil e indefesa. Se nosso legislador tivesse que escolher um dos dois e sua frase fosse a fórmula que guiasse suas ações, adivinhe de que lado ele ficaria? Exatamente! Do lado de quem vai vencer, ou seja, do estuprador. Se sua frase fosse a fórmula universal que guiasse suas ações e ele fosse convidado a participar de uma assembleia onde alguns políticos estivessem propondo a demolição da casa de um cidadão para construir uma fossa no lugar, onde despejariam todos os materiais fecais da cidade e mesmo sabendo que já havia uma fossa desse tipo pronta e em um lugar adequado, ele votaria junto com a maioria para derrubar a casa, ainda que o dono da casa fosse seu eleitor, a julgar pela frase, ele não teria princípios morais ou éticos, apenas se juntaria com os vencedores. Se os vencedores são corruptos, desumanos, cruéis etc. Não importa, pois ele só vota agora em quem ganha.
É possível supor que o que ele quis dizer com uma frase como aquela foi que não defende ideia nenhuma, não tem propostas, não tem honra, não está do lado do bem (a não ser que este vença). É possível supor que quando Cristo estivesse sangrando em sua frente ele daria mais uma pancada em seus joelhos e cuspisse em seu rosto, mas quando ele ressuscitasse voltaria ajoelhado e beijando os pés do verdadeiro vencedor. É possível supor que ele não torça por um time, ou que não tenha um time do peito para torcer até o final, muito pelo contrário, ele decide para quem vai torcer quando o jogo já está ganho. É possível supor que ele não respeita seus eleitores na derrota, que ele não estará lá para dizer a população de Panelas que ainda há chance, que lutará até o final e que não é um covarde.
Por fim, temos aqui uma lição que jamais deve ser esquecida por qualquer pessoa que tenha o poder do sufrágio e que possa, por meio do voto, eleger pessoas honradas, corajosas, capazes etc. Quando você elege uma pessoa, está dizendo que concorda com suas ideias e que ela defende o que você ou seu grupo defende. Se esse indivíduo não defende nada, não luta por nada, não faz absolutamente nada e é eleito ou, pior, reeleito, o que espera que ele faça? Quando alguém se elege dizendo que é da oposição, que Lourinho é seu “grande amigo” e que o grupo da situação cometeu atos ilícitos quando vendeu ou comprou coisas de um estabelecimento que não existia, espera-se dessa pessoa coerência entre suas palavras e suas ações. A sabedoria do Rei Salomão torna a obtusidade da frase do vereador Mica ainda mais evidente: “Quem caminha com os sábios torna-se sábio; quem se junta aos insensatos torna-se mau.” (provérbios 13-20).
Por Pierre Logan
O discurso de Mica. |
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Seria legal se esse vereador lesse isso e tentasse responder.
Uma pesquisa rápida sobre "IMPERATIVO CATEGÓRICO" temos:
O imperativo categórico, em termos gerais, é uma obrigação incondicional, ou uma obrigação que temos independentemente da nossa vontade ou desejos (em contraste com o imperativo hipotético).
As nossas obrigações morais podem ser resultantes do imperativo categórico. O imperativo categórico pode ser formulado em três formas, que ele acreditava serem mais ou menos equivalentes (apesar de opinião contrária de muitos comentadores):
§ A primeira formulação (a fórmula da lei universal) diz: "Age somente em concordância com aquela máxima através da qual tu possas ao mesmo tempo querer que ela venha a se tornar uma lei universal".
§ A segunda fórmula (a fórmula da humanidade) diz: "Age por forma a que uses a humanidade, quer na tua pessoa como de qualquer outra, sempre ao mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio".
§ A terceira fórmula (a fórmula da autonomia) é uma síntese das duas prévias. Diz que deveremos agir por forma a que possamos pensar de nós próprios como leis universais legislativas através das nossas máximas. Podemos pensar em nós como tais legisladores autônomos apenas se seguirmos as nossas próprias leis. (fonte: Wikipédia.org)
Alice,
Não tenho certeza se ele sabe escrever!
Olá, Silva!
Acho ótimo que você tenha pesquisado e buscado justamente o ponto que considero bem importante no artigo, que é a moral kantiana. Não pude colocar essa explicação para não me alongar demais, por isso considero seu comentário muito importante, na verdade ele complementa o artigo (como uma nota). O kant é sem dúvida um dos filósofos mais complexos por isso deve ser lido devagar e com muito cuidado. Você bebeu de um fonte pouco recomendável e bastante complicada. Há fontes bem mais simplificadas se você tiver interesse. Mais uma vez agradeço seu comentário e repito que fico muito contente quando vejo comentários como os seus que além de participar de forma correta complementa e ajuda a explicar o texto. Parabéns! Fico a disposição para conversar e ajudar por aqui ou pelas redes sociais.