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PANELAS, A VERGONHA DE SER HONESTO

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Publicado em 22/09/2020 | Atualizado em 21/02/2022

O Brasil ainda é um jovem democrático. Eu, por exemplo, tenho 33 aninhos, portanto, sou um ano mais velho que a Constituição democrática brasileira. Se nos grandes centros a democracia ainda não é perfeita, o que será de nós provincianos que estamos “longe demais das capitais”, como diriam os Engenheiros do Hawaii. O que se percebe é que realmente nossa cidade é “tão grande e tão pequena”. A democracia foi convertida em plutocracia (governo do dinheiro). A estratégia é a mesma de séculos atrás e mesmo assim o povo ainda caminha na direção das câmaras do gás mortal da compra e da venda de consciência.

A campanha se transformou em um grande comércio onde as alianças são feitas em torno de quem tem dinheiro e não de quem tem ideias. Não importa, para alguns, se o político não cuidar dos interesses da população em saúde, o que importa é que ele “desenrole” aquele probleminha pontual dele. Quantos vão sofrer nas filas acordando de madrugada para pegar ficha, quantos ficarão sem médicos, quantos sofrerão quando não forem atendidos; não importa desde que sua situação seja resolvida. É a velha história do idiota que não enxerga o sofrimento à sua volta porque não para de olhar para o umbigo.

O cidadão, lamentavelmente, ainda não compreendeu que não deveria ser o político que deveria correr atrás dos cidadãos, mas os cidadãos que deveriam se preocupar em eleger bons políticos. Porque serão quatro anos de sofrimento, de falta de apoio e vigilância de todo tributo fruto do suor do seu rosto. O cidadão ainda vota ou porque negocia uma assistência ou porque é amigo, parente etc. Poucos votam simplesmente por se sentirem representados. Muitos ainda não entenderam a sagrada função de servir ao povo, seja administrando ou fiscalizando sua administração.

Vejo situações que de tão óbvias são gritantes. Políticos que nada fizeram, fugiram do povo, se esconderam da população, não participaram de nenhum debate ou discussão importante. Não lutaram por direitos, não defenderam ideias, não se comprometeram com nenhuma pauta séria e agora, reaparecem pedindo “ajuda” e o eleitor se comove, recebe o indivíduo na sua casa, vota e mais uma vez ratifica o descaso, o abandono, a falta de compromisso e prioriza o mau político.

Quando você diz que vai votar em fulano, o que você está dizendo é que fulano está agindo bem. O que se diz quando se vota em alguém é que aquela atitude (corajosa ou covarde, apurada ou omissa) é a sua atitude. Se o político some e o cidadão reelege, a mensagem passada é de que o cidadão gosta de político que some. Se o candidato promete e não cumpre e é reeleito, o que é subtendido é que o cidadão gosta de quem não cumpre promessas. Se o político só trabalha em época de eleição e é reeleito, a mensagem é que o cidadão gosta de quem só trabalha em época de eleição. Eleições são periódicas para o cidadão poder trocar de representantes ruins e não para mantê-los.

O grande problema é que aquela antiga estratégia supracitada deixa o cidadão na miséria para “salvá-lo” perto das eleições. E o cidadão, na maioria dos casos, agradece o “salvamento”. São três anos e alguns meses solapando direitos, amarrando o cidadão na dependência e vendendo a ideia de que tudo vai melhorar se seu candidato for eleito por mais quatro anos. Alguns políticos enxergam os cidadãos como produtos em um grande mercado obscuro, enquanto outros que reclamavam da falta de condições enchem a boca para dizer que estão dispostos a apostar muito dinheiro em quem vai ganhar e em quem vai perder. Não é briga de galo, nem corrida de cavalo, mas as apostas do “cassino antidemocrático” são altas e feitas, inclusive, por políticos eleitos.

Por essas e outras razões muitos cidadãos inteligentes ficam fora da política. Por essas razões muita gente capacitada acha o cenário político um evento circense. Por muitas outras razões a política partidária me desanima e me faz refletir sobre a frase de Nelson Rodrigues de que os idiotas vão dominar o mundo. Rui Barbosa disse que “de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”.

A decepção pelos que se corrompem é inevitável, mas não me envergonho de ser honesto. Não me envergonho de ter posicionamentos insólitos e parecer estranho diante da maioria que grita “solta Barrabás!!!!!”. Não me envergonho de lutar por direitos e não participar de conchavos, nem de cumprir minha palavra, nem de assumir meus erros, tão pouco de rir de situações constrangedoras. Que o mal cumpra seu papel, isso não me impede de querer o bem. Hoje entendo porque a Dra. Maria José, a ex-vereadora Mazé, me olha com tanta caridade, com tanta comiseração. Ela sabe que eu deixei tudo o que tinha, peguei minha cruz e segui pelo caminho estreito. Não desanimo da virtude; eu a busco, mantenho a honra e jamais me envergonharei da honestidade. Quem se vendeu que abaixe a cabeça, pois a minha sangra, mas não se curva.

Coluna Política // Por Pierre Logan

Advogado, Bacharel em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas. Formado em Filosofia, é licenciado pela Universidade Cruzeiro do Sul, Pós-graduando em Direito Processual Civil pela Escola Paulista de Direito. Filósofo. Membro do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho. 

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