Publicado em 19/08/2016 | Atualizado em 21/02/2022
Após aquela pausa estratégica entre semestres, cá estamos nós, mais uma vez, refletindo sobre a educação oferecida em nosso país, em especial, na nossa cidade. Aproveitando o “espírito olímpico” gostaria de convidá-los para pensarmos um pouco sobre o que entendemos por legado e como essa noção pode ser pensada tanto a nível olímpico quanto educacional.
Um dos assuntos que surgem quando se fala em grandes eventos, como é o caso das Olimpíadas, diz respeito ao legado deixado, ao que fica quando a festa termina. Segundo o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, parte do Parque Olímpico será destinada a empreendimentos residenciais e comerciais, um parque público também será construído, além de uma área destinada ao uso de estudantes da rede pública em conjunto com atletas de alto rendimento. Enfim, é preciso dar serventia aquilo que foi construído com tanto esforço (diga-se de passagem, da população, pois boa parte do dinheiro usado veio dos impostos que pagamos).
“A educação de hoje ofertará um legado favorável à cidade que queremos? Ao Brasil que buscamos?”
Como meu interesse aqui não é discorrer sobre a pertinência, ou não, desses eventos em nosso país, continuemos o raciocínio. Se efetivada, a promessa de aproveitamento do espaço para fins recreativos e esportivos pode ajudar o Brasil a quem sabe nas Olimpíadas futuras conquistar mais algumas medalhas que as 14 obtidas até agora (noite de 18/08), vale ressaltar que extremamente merecidas, pois não é fácil vencer quando se tem uma realidade tão desanimadora. Falando em realidade desanimadora, chegamos ao outro ambiente em que vencer também não é tarefa fácil: o meio educacional. Ao contrário das Olimpíadas, o legado deixado pelo processo educativo é imaterial, não corresponde a prédios ou espaços, mas sim a atitudes que agem diretamente no convívio social. Então nos perguntamos, a educação de hoje ofertará um legado favorável à cidade que queremos? Ao Brasil que buscamos?
Para responder a essa pergunta, voltemos o olhar para o Ensino Infantil, aquele oferecido às crianças de 0 a 5 anos. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) pontua que essa etapa “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (Art. 29 atualizado em 2013). Muitos foram os debates que resultaram no que hoje é colocado pela LDB. Alguns críticos defendiam atividades puramente assistencialistas para crianças nessa faixa etária, aí veio Froebel e seu conceito de jardim-de-infância para aquecer a discussão, considerando o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas, ideia hoje confirmada pela Psicologia. Ainda na LDB, os profissionais encarregados de educar as crianças nas creches e pré-escolas necessitam ter, no mínimo, cursado o Ensino Médio na modalidade Normal ou/e ter formação em nível superior no curso de Pedagogia.
“Não dá para continuar fingindo que tudo está bem ou que tudo é tão difícil que não possa ser mudado”
O que quero dizer com tudo isso é que para desenvolver os aspectos físico, psicológico, intelectual e social de sua criança, caso tenha uma, nobre leitor, os profissionais precisam ter formação para tal, caso contrário, o ponta pé inicial da vivência educativa ficará comprometido, assim como o legado que será deixado. Não dá para continuar fingindo que tudo está bem ou que tudo é tão difícil que não possa ser mudado. Enquanto tivermos esses malditos contratos comprometendo o cumprimento da Lei no processo educacional, continuaremos arrastando os velhos fantasmas e colhendo os mesmos frutos: uma educação precária, que não atende às expectativas curriculares e que repete os mesmos erros sociais que hoje presenciamos.
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, já dizia Paulo Freire. As negociatas sujas já estão a todo vapor, promessas de emprego em troca de apoio político não são novidade nenhuma para nós, panelenses. Há crianças esperando por essas creches que já deveriam estar em funcionamento, mas será que o quadro de funcionários atenderá ao que a Lei obriga? Se for movido pela ilegalidade dos contratos, creio eu que não. E aí veremos o ciclo continuar, a roda girar, nada mudar.
Criança é um assunto delicado, pois muito do que for feito com ela nesse início de vida, pulsará no futuro e remodelará nossa sociedade para o bem ou para o mal. Sabendo disso, findo o artigo de hoje mencionando um pequeno que fez meu coração chorar, não ele, mas a condição em que ele se encontrava, falo do garotinho sírio Omran Daqneesh, de cinco anos, coberto de pó e sangue após um bombardeio na cidade em que mora. Quantas crianças na idade do Omran também sofrem violência, quantas morrem, quantas perdem a oportunidade de se desenvolver em um ambiente sadio. Não podemos nos omitir, precisamos cuidar dos nossos pequenos, precisamos melhorar o mundo para eles.
Coluna Educação // Por Sheila Alves
Professora, graduada pela UPE em Letras e
especialização em Ensino de Língua Portuguesa e suas Literaturas.
E membro fundador da Associação Comunitária de São Lázaro (Panelas-PE).
especialização em Ensino de Língua Portuguesa e suas Literaturas.
E membro fundador da Associação Comunitária de São Lázaro (Panelas-PE).
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