Publicado em 23/01/2017 | Atualizado em 21/02/2022
Sempre é bom ficarmos de olho na nossa própria vida. Estamos quase sempre olhando para aparelhos móveis e não percebemos como ficamos imóveis diante de muitos acontecimentos importantes e cruciais para nosso próprio desenvolvimento. Erguemos os olhos para tentar enxergar o que está distante e inconscientemente caímos nas armadilhas das tentativas vãs, acabamos por não notar o que está diante de nós. É assim para muitas relações que temos, mas o que não é relação? Sua vida é um conjunto de relações com sua família, amigos, conhecidos, vizinhos e desconhecidos. Você se engana se acha que os políticos não têm relação nenhuma com você. Os políticos têm, o comerciante tem, o padre ou pastor tem, os professores, pedreiros, doutores e diretores etc. Talvez seja interessante refletirmos que tipo de relação temos com o mundo que nos cerca. Hoje pensaremos na hipótese de outro tipo de relação.
Você com certeza já ouviu que muita gente cresce em tempos de crise. A afirmação é verdadeira. Algumas pessoas são capazes de pensar sob pressão e enxergam oportunidades onde muitos outros enxergam apenas o fim do mundo. Pessoas com capacidade de crescer em tempos difíceis acham lacunas para se dar bem e criam oportunidades para alcançar seus objetivos. Outras pessoas não têm essa capacidade e acabam por sofrer as consequências das vicissitudes do “destino”. O que ocorre é que, além das pessoas que vencem nas crises e as que perdem nas crises, existe aquelas que criam ou sustentam as crises para poder vencer.
Como disse no meu texto anterior, aprendemos a defender ideais pelos quais acreditamos que se vale a pena lutar. Nada obsta que essas ideias sejam nocivas para coletividade. Veja, por exemplo, os que afirmam há mais de vinte anos que ajudam pessoas carentes. Não acredito que não estranhem o fato de passarem mais de vinte anos ajudando pessoas carentes sem se perguntar o porquê dessas pessoas continuarem carentes. O problema que a nossa cidade enfrenta com a falta de água não começou ontem e, ainda assim, não está nem perto de ser resolvido. O que temos é uma tentativa espúria de agradar os olhos e ouvidos de pessoas que não têm água nas torneiras. Será que alguém está lucrando com sua desgraça, panelense?
Em primeiro lugar é preciso entender que o conceito de “lucro” utilizado aqui não é aquele necessariamente atrelado ao estritamente financeiro. Falo naquele que favorece alguém ou traz algum tipo vantagem. Note bem. Algum político ou “autoridade” ligada a grupos políticos fazem questão de distribuir água? Você já parou para pensar que é uma das primeiras coisas que alguns candidatos fazem antes mesmo de iniciar campanhas? Já pegou água num caminhão com o nome de algum candidato ou político eleito nele? Então sabe do que estou falando. Não esqueça que a seca é um elemento recorrente nos discursos de candidatos estaduais e municipais. Quando acreditamos, ainda que minimamente em discursos desse tipo, acabamos por validar um tipo de vantagem eleitoral desejada pelos nossos algozes.
Acredito que algumas dezenas de anos seja mais do que necessária para identificar e resolver o problema. Não acredito que a população de Panelas seja burra e nem que alguns políticos o sejam também (alguns são). Penso que o que existe é a aplicação da velha máxima maquiavélica de que um desgovernante deve fazer o mal de uma única vez e depois vir fazendo o bem aos poucos.
Os que vendem água acabam lucrando dinheiro. Os que doam água acabam lucrando a visibilidade e o sentimento de dívida que fica naqueles que recebem o “beneficio”. O que sobra para as pessoas de bem, especialmente as pessoas de bem que são hipossuficientes é a quase que total dependência. Já que numa cidade onde a maioria nunca ouviu falar de carteira assinada, ou de mercado de trabalho, em que muitas vezes falta condições para por comida na mesa, como há de sobrar para comprar água?
A educação sempre recebe o mínimo, como o TCE já cansou de mostrar. A Saúde também recebeu pouco pelo que é previsto pela CF. O povo não recebe quase nada. Dinheiro é gasto nas campanhas ou desfilam em forma de carro de luxo pelas ruas do município. Os ligados de forma mais íntima a Máquina Pública, usam a vantagem que têm para ostentar e humilhar os que não compartilham da mesma hipocrisia. A postura do déspota sempre assunta, o que comove é a dor, o sofrimento ou a luta dos que sofrem. A necessidade da qual falo não é natural. Ela é pré-fabricada e mantida cuidadosamente pelos que necessitam dela para viver parasitando a sociedade. A indústria da seca mata muitas vezes até mais do que as armas. A política anda sendo mantida por fome, sede, medo, mortes e humilhação.
A política como é feita hoje, infelizmente, ainda é uma indústria que explora de forma vergonhosa as pessoas mais necessitadas. Nessa indústria a necessidade é o pano de fundo para justificar os favores e transformar facilmente os “favores” em moeda de troca. Do meu ponto de vista, a riqueza deveria ser explorada um pouco, porque a pobreza não aguenta mais ser tão explorada desse jeito.
Coluna Política // Por Pierre Logan
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. OAB-SP 218968E.
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