Publicado em 28/09/2010 | Atualizado em 21/02/2022
Veja o que os candidatos de Pernambuco pensam sobre temas relacionados à educação nas entrevistas concedidas individualmente. As perguntas foram formuladas por conselheiros do Educar para Crescer e os entrevistados não tiveram acesso antecipado às questões.
Os candidatos ao governo de Pernambuco falam sobre as principais questões ligadas à Educação.
No Brasil ainda temos cerca de 15 milhões de mulheres e homens acima dos quinze anos de idade que não conseguem, por serem analfabetos, ler o lema da própria bandeira nacional: Ordem e Progresso. Na sua eventual atuação como governante, que ação fará para não consolidar essa injusta e vergonhosa ironia cívica?
Pergunta elaborada por: Mario Sergio Cortella, filósofo, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, doutor em Educação, professor da PUC-SP
Eduardo Campos – Temos de resolver esse passivo histórico. Pernambuco tem algo em torno de 800 mil pessoas nesta situação. Nosso Programa Paulo Freire atendeu cerca de 350 mil porque há um grande número de abandono nesse tipo de programa e do contingente inicial praticamente 40% ou 50% fica no meio do caminho. Mas vamos continuar resolvendo esse passivo histórico e cuidando de não formar mais no futuro, incentivando as creches, a educação infantil, apoiando e valorizando os municípios que estão tendo efetivamente destaque nisso. A nossa Lei do ICMS dá um diferencial àqueles municípios que têm excelência na alfabetização no tempo correto, porque a partir dessa conquista a gente evita inclusive as repetências e a distorção idade/série no futuro.
Jarbas Vasconcelos – O problema não é nem ler, porque tem uns que conseguem ler e não sabem o que estão lendo. Essa é uma deformação do Brasil, não é só do Nordeste, que, por ser pobre, é mais acentuada. É a questão do Ensino Básico, o erro vem da alfabetização, muitas vezes feita de forma inadequada, por pessoas que não estão sequer alfabetizadas para alfabetizar outras. Isso se repete lá na base e quando chega ao ensino médio vem a repetência e quando chega o vestibular, não se consegue o êxito em um curso bom. E então se faz um curso furado, de araque. A questão da educação no Brasil passa muito por uma orientação nacional, vai depender muito da vontade de cada estado, mas é uma questão nacional. Não adianta, por exemplo, eu eleger, como pretendo, a educação como prioridade 1 se os meus vizinhos, outros estados, não têm essa mesma orientação. E um exemplo pior é a pessoa ler e não saber o que está lendo. É ler uma frase curta, ou então algo como “Ordem e Progresso”, e não saber o que aquilo representa.
O senhor sabe quais são as metas do IDEB para o seu mandato?
Eduardo Campos – Estamos nesse momento discutindo nosso programa de governo e queremos lançá-lo em 15 de setembro. A nossa ideia é firmarmos um compromisso com IDEB e quantitativo de escola integral, com um quantitativo de escolas técnicas e escolas profissionalizantes. Vamos anunciar nossa meta de melhoria do IDEB não só nas nossas escolas, mas num esforço de Pernambuco como um todo. Entendemos que não seja só obrigação nossa, é de nossa responsabilidade também as escolas municipais e até as escolas particulares. Nós queremos formar um grande pacto para acelerar a melhoria do IDEB nos próximos quatro anos.
Jarbas Vasconcelos – Não. Vi as metas de Pernambuco e comparei, inclusive, com Santa Catarina. Mas não tenho os números de cabeça. Sei que quando Santa Catarina, em 2011, atingir uma determinada meta, essa mesma meta a gente só vai alcançar cinco ou seis anos depois.
O senhor se compromete com essas metas ou com metas mais agressivas para o IDEB?
Eduardo Campos – Mais ousadas, sim.
Jarbas Vasconcelos – Claro.
Quais são as ações objetivas que o senhor, hoje, pode dar certeza absoluta que fará, caso eleito, para atingir essas metas?
Eduardo Campos – Vamos aumentar o ensino integral. Saltamos de 13 escolas para 60 escolas em tempo integral e mais 100 que têm aula dois dias à tarde, ou seja, semi-integral. Queremos chegar a 160 escolas em tempo integral e mais 140 semi-integral. Tínhamos como responsabilidade do Estado cinco escolas técnicas e vamos chegar, em 2014, a 60 escolas técnicas, que funcionam assim: de manhã é o Ensino Médio normal e, à tarde, acontece o ensino técnico. E à noite tem o técnico subsequente. Nós entendemos que, dessa forma, vamos chegar a cerca de 70% do nosso alunado do ensino médio tendo ensino integral. Essa será uma grande contribuição, com certeza, à qualidade do ensino. Afora isso vamos concluir o trabalho em parceria com universidades, com organizações não-governamentais, no sentido de fazer a correção de fluxo. Temos um grande esforço de correção de fluxo com a Fundação Roberto Marinho, com o Instituto Ayrton Senna, feito não só na rede estadual, mas também em quase todos os municípios. Isso, mais a capacitação continuada dos nossos professores, mais uma proposta que estamos consolidando no programa de governo que é bolsas para alunos de áreas de licenciatura em disciplinas que nós temos deficiência, como professores de matemática, química e física, tudo isso vai ter como resultante um ensino de melhor qualidade para o nosso alunado.
Jarbas Vasconcelos – Com relação às escolas em tempo integral, tive uma experiência no meu governo, quando deixamos 14 ou 13 funcionando e outras seis ou sete, não tenho bem esse número, para funcionar no ano seguinte. O governador atual duplicou isso, porque desprezou uma coisa muito simples: o critério da qualidade pelo da quantidade. Nós restauramos o Ginásio Pernambucano como projeto piloto com, inclusive, ajuda financeira de empresários, sobretudo de São Paulo, como a irmã do (falecido piloto de Fórmula 1)Ayrton Senna e o Marcos Magalhães, que na época era diretor da Philips do Brasil. E, depois, com base nisso, aplicamos em mais três escolas. Pernambuco tem cerca de mil escolas. O ideal era você avançar com a escola em tempo integral, adaptada, com conteúdos, biblioteca, informática, laboratórios. No vestibular de 2006, o aproveitamento dos alunos do Ginásio Pernambucano foi de 75%, o que mostra a experiência válida da escola em tempo integral.
Tem de abordar também a questão salarial. O professor é mal remunerado em São Paulo e no Rio Grande do Sul, mas no Nordeste é muito mais. Já foi criado um piso nacional, acanhado ainda, mas é um piso. Tem estados no Nordeste que pagavam a uma professora menos do que um salário mínimo. Como você pode exigir tempo integral, capacidade, qualificação de um professor se ele não tem uma remuneração digna? É muito difícil. E ainda temo a questão pedagógica. É você ter uma escola e ela ser bonita, equipada, mas não avança na questão pedagógica, não une educação à tecnologia. Tudo isso fica furado e sempre se faz as coisas pela metade. Se você me perguntar “por que o senhor foi governador anos atrás e não elegeu a educação como prioridade ‘A’?”. Respondo que, no caso de Pernambuco, há dez anos, tudo era prioridade. Tudo: da infraestrutura até questões menores. O estado hoje atravessa outro momento, de crescimento econômico, quase que sustentado. Atraiu investimentos por conta da infraestrutura, investimentos grandes como a Refinaria [Abreu e Lima] e o Estaleiro [do Porto de Suape]. Hoje o estado tem condições de escolher as suas prioridades, ao contrário de uma década atrás. Não há nenhum país no mundo que tenha avançado, chegado a um estágio de desenvolvimento, com a educação do povo, de não jogar lixo na rua, saber falar, saber escrever, saber pensar, que não investiu na educação. Educação aí incluindo ciência e tecnologia.
Considerando que o professor é peça chave para a melhoria da qualidade do ensino. Como o candidato pretende articular a formação dos professores com a prática da sala de aula para que haja um efetivo impacto na qualidade?
Pergunta elaborada por: Maria Alice Setubal, socióloga, diretora-presidente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), integrante do Conselho de Administração da Fundação Abrinq e do Conselho do Programa Comunidade Solidária.
Eduardo Campos – Nós encontramos uma situação, do ponto de vista de recursos humanos, muito difícil no Estado. Tínhamos muitos professores temporários, remuneração muito baixa, a auto-estima muito tocada do professorado. Estamos no caminho do resgate da valorização com cobrança. Não é a valorização por valorização só. A valorização do mérito, do trabalho, da qualidade da aula, da nossa escola. Estamos nesse momento discutindo um novo plano de cargos, carreiras e salários que efetivamente incentiva a formação, os cursos de especialização, mestrado e doutorado, com uma forte diferenciação na remuneração. As escolas integrais já têm também um efetivo destaque para a remuneração e um grande esforço para que o nosso professor tenha cada um deles computador pessoal, com programas educativos. E também direito a participação nas nossas feiras do livro, com crédito para a compra dos livros que entenderem importantes para sua formação; recebimento em casa de jornais diários; recebimento de revistas especializadas, disponibilizadas para as secretarias das escolas, para as bibliotecas das escolas, mas também para o próprio professor. E cursos nas nossas universidades, abrindo cursos específicos de pós-graduação para o nosso professorado. Agora estamos de olho na estruturação de um programa de bolsas para as áreas em que temos mais carência, sobretudo no que diz respeito ao interior do Estado.
Jarbas Vasconcelos – Primeiro a remuneração. Sem remuneração você não resolve as coisas. É preciso uma remuneração que parta de um piso e que avance, quando a situação do estado permitir. E depois, a qualificação permanente, constante. Pernambuco, por exemplo, está importando mão de obra. O governo não se preparou para fazer a qualificação para esses investimentos que chegaram e, com isso, Pernambuco está importando mão de obra. O Jornal do Commerciofez uma matéria mostrando que Pernambuco está importando mão de obra para investimentos como a Refinaria e o Estaleiro. Até agora, são investimentos recentes, importaram 4.300 pessoas do Brasil e até de fora do País. Além da qualificação, o ‘X’ do problema é a educação. A pessoa tem uma educação deficiente, capenga, e se ela passar por uma qualificação e não for uma coisa extraordinária, não adianta.
Há quem defenda a implantação da política de bônus como forma de reconhecer o mérito do professor. O senhor acredita que esta seja a melhor política para reconhecimento de mérito docente? Se não, qual seria o caminho?
Pergunta elaborada por: Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do Todos Pela Educação
Eduardo Campos – Quando se trata de educação não é um único fator que determina o resultado. É um conjunto de fatores. Precisamos efetivamente buscar avaliação de resultados na educação, não podemos ter, como tínhamos quando cheguei, uma escola que sequer fazia avaliação dos alunos. Perdíamos os alunos por desinteresse. O sistema de metas de avaliação é importante para que se vá corrigindo rumos, fazendo novas políticas de incentivo. O fundamental é que se possa no ambiente da escola ensinar a se aplaudir o mérito. Não podemos aplaudir a esperteza ou a desídia (preguiça). A gente tem de destacar o mérito que tem tantos anônimos professores e professoras que acordam muito cedo, deixam seus filhos numa creche e vão cuidar dos filhos do Brasil, com a certeza de que o grande desafio do Brasil neste momento é a educação. E isso não será resolvido com discurso. Será resolvido com investimento, com um modelo de gestão com valorização do nosso professorado e com busca de resultado. O bônus é uma parte da política, não pode ser entendido como o todo. Se o bônus é implantado e não se dá oportunidade de qualificar, de oferecer material didático correto, de fornecer uma bibliografia para que o professor possa, inclusive, estudar, de oferecer escolas estruturadas para ele trabalhar, de dar acesso a conferências, a gente não pode esperar que o bônus por si só vá resolver.
Jarbas Vasconcelos – Não tenho uma opinião formada ainda sobre o bônus. Não rejeito a ideia, mas a gente deveria cumprir outras metas. Estou falando no caso de um estado do Nordeste, pobre. Não dá para você queimar etapas agora como querer estabelecer o bônus em cima de uma precariedade de salário e de qualificação. Não tenho uma opinião formada, confesso. Não descarto, não coloco como uma coisa inadequada, inoportuna. Pode ser um estímulo, uma política a ser adotada. Mas é muito mais fácil você adotar a questão do bônus em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, não digo nem em Minas Gerais, que tem regiões muito pobres, do que você adotar isso aqui no Nordeste.
Fonte: www.educarparacrescer.abril.com.br
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