Pretendo configurar o texto de hoje mais como uma carta, que como um artigo. Pensei que não teria tempo de escrevê-lo, mas professor não tem jeito, é difícil não cumprir os compromissos que assume, o remorso é um bichinho que incomoda. Então, cá estou eu, no térreo da UFPE, sem internet e tendo 26 minutos para findar esta carta que agora escrevo e retomar a maratona de simpósios dos quais vim participar.
Ao mestre, com carinho!
Instaurado desde a década de 1960 através de decreto que definia o dia 15 de outubro como o Dia dos Professores.
Começo ressaltando a importância do dia de hoje, instaurado desde a década de 1960 através de decreto que definia o dia 15 de outubro como o Dia dos Professores. Nele, as instituições de ensino deveriam promover festividades que valorizassem a função do mestre na sociedade. Parece tão clichê falar sobre a necessidade da valorização dos professores, pois de tanto que isso vem sendo repetido, parece que as palavras perderam a força, e como pesquisadora que tem o discurso como objeto de análise, posso dizer que os efeitos de sentido que permeiam o que é dito sobre a carreira docente estão longe de valorizá-la de fato. Isso pode ser comprovado pelas notícias que circularam no início desse segundo semestre: houve queda drástica na procura por cursos de Licenciatura, exigindo que o Governo oferecesse incentivos para combater o desinteresse pela carreira docente. Em abril, tivemos a fala do então ministro da educação, Renato Janine, sobre a barbaridade que aconteceu em Curitiba no mês de abril, quando policiais agrediram os professores que protestavam contra o projeto de lei sobre a previdência. Disse o ministro: “Que exemplo é dado quando você tem pessoas que têm um papel praticamente de extensão da família, de substituição em relação à família quando a polícia os espanca?”.
“A forma de agressão mais perigosa, porque é camuflada: políticos que agridem diariamente o professor. Agridem quando não legislam a favor da classe”
Vivemos em uma sociedade que marginaliza os professores ao mesmo tempo em que fala sobre valorização docente, quão incoerente é esta atitude! Daqui a pouco, falarei no meu trabalho sobre os discursos que foram proferidos a respeito da greve dos professores aqui em Pernambuco, onde o atual governador, ainda candidato, prometeu dobrar o salário dos professores e, pouco tempo depois, não cumpriu nem a lei federal do piso, um aumento de 13%. Em um curto espaço de tempo o que pôde ser visto foi uma rápida passagem do discurso de professor merecedor de valorização para um professor que prejudica seus alunos por estar em greve. Torno a falar: quão incoerente é esta atitude! Não é difícil compreender o porquê de nossos jovens não mais quererem ingressar na carreira docente, ela tem se mostrado assustadora. Alunos que agridem o professor, familiares que agridem o professor, e a forma de agressão mais perigosa, porque é camuflada: políticos que agridem diariamente o professor. Agridem quando não legislam a favor da classe, quando não investem na infraestrutura dos ambientes de trabalho, quando desviam verbas destinadas à educação, e tantas outras formas veladas de agressão.
“Aos que semearam em terra fértil nas salas de aula desse nosso Brasil, saibam que os cidadãos mais humanos, mais engajados, têm parte de vocês vivendo no coração deles.”
Poderia escrever mais sobre esse dia, mas o tempo é curto, preciso assumir os outros compromissos que fiz quando escolhi a carreira docente: continuar em formação, buscar o melhor para poder compartilhar o melhor. Fica aqui meu agradecimento infinito aos professores que passaram por minha vida, a eles dedico o meu amor à carreira docente, e hoje, neste dia tão especial, quero fugir dos clichês, pois não tenho intenção de ser mais uma na multidão que fala sobre a valorização dos professores, mas que nada faz para que esses anseios sejam uma realidade. Aos que semearam em terra fértil nas salas de aula desse nosso Brasil, saibam que os cidadãos mais humanos, mais engajados, têm parte de vocês vivendo no coração deles. Aí está o sucesso das batalhas que vocês enfrentaram. Para finalizar esse texto, deixo para todos nós a pergunta: E nós? O que temos oferecido aos mestres que passaram e que ainda passarão pela nossa vida? Fica a reflexão.
Por Sheila Alves
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