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COSÌ È (SE VI PARE): APLAUDAM PANELAS DE PÉ!

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Publicado em 04/07/2016 | Atualizado em 21/02/2022

Hora de falar sério porque rir é bom, mas rir de tudo é desespero.

Mês de férias, garotada! Pausa nos estudos para tentar aprender alguma coisa útil. Saída de Panelas para os que já conseguiram juntar um dinheiro e para aqueles que não conseguiram juntar nada, mas torram suas economias porque “quando morrer não leva nada”. É “da hora” ver como repetem a falácia de que o “povo é malandro”. Mas o povo só se lasca! Rala o dia todo e como sabe que é necessária mais de uma vida para conseguir realizar seus projetos, abandona seus projetos passados e transforma seus filhos no projeto presente para que eles tenham um futuro melhor e possa realizar o sonho dos seus netos. É este e não outro o maior projeto da vida do cidadão pobre contemporâneo.

“Não há governo sem povo. Não há política sem coletividade”

“Espera aê, Pierre, esta coluna deveria ser sobre política!”. E assim o é, ainda que não lhe pareça! Se o termo política ainda tiver vindo do grego (politiká/politéia) que é uma derivação da polis que designa aquilo que é público, então política está relacionada a coletividade e eu estou falando de povo, cidadão, dignidade, respeito etc., e não há governo sem povo. Não há política sem coletividade. Se discordar do que estou dizendo, não atire a primeira pedra, compre um livro e vá estudar antes de distribuir julgamentos. Minha intenção é fazer um juízo de fato, não de valor.

A garotada está de férias. É razoável que a maioria busque se divertir, no entanto, alguns me procuraram no whatsapp e me colocaram questões sobre artigos antigos e problemas passados. Conversamos durante madrugas inteiras e depois de satisfeitos com a problemática, me comprometi a gravar aulas de filosofia e política colocando Panelas no centro da questão. Agora quero me dirigir aos jovens de espírito elevado (aqueles que ainda não se entregaram ao mantra da cachaça, rapariga e cabaré – Cultura predominante). Estou me dirigindo aqueles que buscam realizar seus sonhos em vida e que possam testemunhar, ainda em vida, a realização dos sonhos dos seus filhos e netos.

A política, inicialmente, foi feita para facilitar a convivência e impedir o permanente estado de beligerância entre os seres humanos. Desde os pensamentos aristotélicos sobre o motivo que nos leva a buscar a vida em conjunto, o pensamento político hobbesiano, os textos de Locke e nos pensadores que sucedem estes nesta questão, a lógica raramente varia entre natureza humana e segurança. Se fizermos um contraponto entre outro texto como o de Lá Boétie sobre a servidão voluntária (inclusive tratado nesta coluna) constataremos que; sendo a servidão um estado de covardia e não é inerente a natureza humana, nosso estado natural é o da liberdade.

Então temos três pontos convergentes: Natureza, segurança e liberdade. Sabendo que a nossa natureza é a da liberdade e não da servidão e que buscamos segurança para usufruir desta liberdade que nos é intrínseca, concluímos inicialmente que nos associamos, nos juntamos, escolhemos abrir mão de um pouco desta liberdade para viver em conjunto, não para nos submeter ao desejo de outros, mas para garantir maior segurança através de um tipo de “contrato social”.

“Políticos não são autoridades acima do cidadão, mas autoridades para o cidadão”

Muito bem. Damos autoridade para que alguns indivíduos tomem certas decisões por nós e damos a eles o nome de governantes. Esses chamados políticos não são autoridades acima do cidadão, mas autoridades para o cidadão. Criamos uma posição que se vê (e a maioria assim enxerga) sobre a pirâmide social, quando na verdade está sob a pirâmide social, já que foi criada em função de; e existe apenas em função de. Não servindo ao propósito da representatividade que garante nossa liberdade, segurança e paz; não há razão para sua existência.

Diante do que foi dito e caminhando para o final paradoxalmente voltamos para o começo, caros leitores. Così è (se vi pare) significa: assim é, se lhe parece. Usei este título para usar como referência a peça teatral do escritor italiano Luigi Pirandello, escrita em 1917 (curiosamente ano da revolução russa). Esta peça é definida pelo próprio autor como “farsa filosófica”. Alguns poderão dizer que não há sentido na referencia, mas assim como a obra proponho aqui uma situação paradoxal. Notemos que o contraste entre a realidade e a aparência está claro como a água. Alongarei um pouco mais o texto e receio que alguns não terão paciência para adentrar mais fundo no labirinto das aparências.

“Há algo errado quando o representante viaja para curtir o friozinho gostoso de Campos do Jordão em um hotel de luxo e o representado morre de frio em baixo de um viaduto”

Se há necessidade de duas ou três gerações para conseguir o que queremos, por que os que nos representam conseguem em poucos anos? Há algo errado na lógica da representatividade. Seria errado imaginar que sacrificamos nossos sonhos, de nossos filhos e, não raras vezes, dos nossos netos para que os políticos e sua estirpe realizem os seus? Que contrato é este que beneficia o lado de quem representa em detrimento dos que são representados? Há algo errado quando o representante viaja para curtir o friozinho gostoso de Campos do Jordão em um hotel de luxo e o representado morre de frio em baixo de um viaduto, em cima de um papelão.

Esta realidade que escracha o brasileiro é comum nas margens plácidas dos esgotos jogados nos rios de nosso país. É patente nos recantos mais populosos do Brasil. Não é do FHC, Lula, Dilma, Temer ou de outro a culpa. Não é do sistema, que já existe antes de nascermos. A culpa, talvez, seja um pouco nossa, quero dizer; dos filhos que não percebem que os pais sacrificaram seus sonhos pelos nossos. Vemos um monstro faminto ser alimentado pelos nossos vícios, nossos medos, nossa omissão, nosso ego, nossa complacência e não protestamos. Buscamos dinheiro porque ele trás a sensação de que isso nos coloca numa posição mais vantajosa em relação ao sistema e esquecemos que qualquer posição dentro do sistema é inexoravelmente parte dele. Buscamos a faculdade, a pós, o mestrado, o doutorado etc.; e não fazemos nada com isso porque o status é o principal aperitivo do sistema. Alimentamos muito bem a miséria e quase nunca notamos que é assim que edificamos nossa própria miséria.

Concluo, portanto, acusando que é tudo um grande teatro e que de alguma forma que não tenho como explicar sabemos desde sempre que estamos nele e quase nunca fazendo o nosso papel. Fazemos o papel de personagens que estudam, mas não aprendem e que se aprendem não fazem nada com o conhecimento. Não produzem. Repetem e se repetem até decorar o texto do: “eu sou importante e um vencedor porque criei meus filhos” (estando eles condenados ao mesmo teatro ou não).

“Panelas é o símbolo perfeito do teatro político”

E por estas e outras questões não aplaudo Panelas de pé! Panelas é o símbolo perfeito do teatro político. Eu nasci no berço de um município tão rico de história que preferiu esquecer seu passado, inventar outro texto e viver em uma grande farsa. Solto dos grilhões eu grito de fora da caverna porque Platão já me avisou o que acontece com os que voltam para contar como é fora. Preso a tantas outras cavernas eu tento me livrar de grilhões impostos por uma sociedade teatral que dá tapinhas em nossos ombros, finge nos dar a mão, mas agride nossa cabeça. E o que me consola é saber que minha cabeça hoje sangra, mas não se curva.

Todavia, se você está feliz e satisfeito com seu papel. Considera devaneios os meus pensamentos e acha que a vida não é tão complicada quanto parece. Que a culpa é sempre dos outros, seja do governante, dos intelectuais, do vizinho com o som alto etc., se está satisfeito com a imagem de uma mansão suntuosa construída sobre um amontoado de entulho, sangue, miséria, pobreza; então assumo minha loucura, reforço o punho da minha espada e de faca nos dentes eu declaro: “Assim é, se lhe parece”! Mas não poderei aplaudi-lo jamais, pois é sabido que os que aplaudem estão com as mãos desocupadas e vazias.

Coluna Política // Por Pierre Logan

Formando em direito na FMU, formação em Filosofia Geral,
Direito Eleitoral, Fundamentos do Direito Público,
Ciência Política e Teoria Geral do Estado.


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