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AS MENTIRAS QUE A DILMA CONTA

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Publicado em 13/05/2016 | Atualizado em 21/02/2022

Não é uma defesa de Michel Temer. É de bom alvitre começar desta maneira para evitar qualquer tipo de “interpretação alternativa”, especialmente para aqueles que acham que o PT sempre está certo. Não adianta dizer o contrário, passei duas horas de minha madrugada inútil procurando nas “timelines” da vida de alguns não militantes, alguma crítica que tenham feito ou compartilhado contra o Partido dos Trabalhadores desde a eleição passada até aqui. Não encontrei nenhuma. Difícil não é perceber que existem apaixonados. Difícil é fazer com que assumam que estão. Dilma fez dois discursos depois de ser afastada. Nos dois disse a mesma coisa. Foi aplaudida por aqueles que acreditam nela e nas palavras atrapalhadas que ela proferiu. Pior do que isso; acreditaram nos atropelos e deformações históricas vomitadas pela presidente.

Honestamente não sei se é questão de “paixão”, “fé” ou desonestidade. Confesso que sou radical, assim como Karl Marx confessou certa feita, procuro atingir a raiz do problema. Ouvi o discurso de Dilma ao vivo pelo rádio no caminho da faculdade para o trabalho, li em alguns blogs petistas alguns trechos do mesmo discurso na volta do trabalho para minha casa, tive até mais tempo para reler tudo porque tinha um grupo de desocupados obstruindo o trânsito para nos livrar do golpe imaginário. Foi aí que tive a ideia de iniciar desta maneira este texto. 

Se alguém acredita que o impeachment não é eticamente correto, respeito a opinião. Se alguém defende que Dilma não cometeu crime de responsabilidade, é completamente aceitável. Até mesmo se alguém diz que não concorda só porque é petista, esse alguém tem todo o direito de ser respeitado pela posição que escolheu. No entanto, se usar a palavra “golpe” para falar em impeachment, sinto muito (sinto nada), mas neste caso específico: ou é jumentez explicita ou partidarismo cego.

Não vou discorrer muito sobre o conceito de golpe porque acredito que não é necessário. Qualquer idiota sabe que desde que inventaram a taxonomia (ou classificação cientifica) você pode saber, pelo menos o que uma coisa não é, simplesmente analisando suas características. Se voltássemos na teoria política e pegássemos o primeiro conceito de golpe da história do inesquecível Gabriel Naudé (consideracions politiques sur le coup d’Etat) ainda em 1639, veremos que a atual situação não chega nem perto. Ainda que se olhe para história moderna com a Revolução Francesa (atenção aos detalhes) notaremos que, entre outros elementos necessários para chegarmos ao conceito de golpe, não há uma ruptura abrupta na ordem institucional, portanto, não há desculpas para espremer uma palavra até moldá-la para usá-la em seu proveito, a não ser que estejam seguindo o conselho do amigo de Hitler e repetindo uma mentira cem vezes até que ela se transforme numa verdade. 

Dilma viajou para fora do país e lá, na frente da mídia golpista internacional, disse que havia um golpe em curso no Brasil. O problema é que quando há um golpe em curso em um país os presidentes são impedidos de voltar. Dilma não só voltou, como encontrou as coisas exatamente como estavam. Golpe estranho esse. O vice usurpador não tomou o poder, não fechou o congresso e nem nada do tipo.

No ultimo discurso a presidente afastada disse que a oposição não conseguiu vencer nas urnas e por isso tramou o golpe. Ora, a oposição foi tão covarde que só entrou na história aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo. FHC deu entrevistas e comentou sobre o porquê de não apoiar o impeachment. Marina Silva (que também se dizia de oposição) ainda insiste que não cabe impeachment e defende que temos que fazer novas eleições. O mais perto de um partido envolvido nesta história é o Hélio Bicudo, um ex-petista (um dos fundadores). 

“Todo o processo é viciado porque o Eduardo Cunha aprovou o pedido para se vingar”. Santo Deus!!! Até o STF já disse que é tão subjetivo que não pode nem ir para julgamento, mas digamos que fosse esse o motivo. Cunha aprova por pura canalhice. O que explica a votação da maioria na comissão do impeachment (escolhida pelo PT e comemorada como uma “grande vitória”)? Ainda que tivessem errado na escolha da comissão, e a maioria na Câmara dos Deputados? E a maioria no Senado? Tudo vingança? Todo mundo comprado? Só a Dilma e seus pares estão certos. Santa inocência, companheiro. Se o problema fosse a vingança do Cunha o impeachment teria morrido na comissão. 

“O quanto de violência contra a mulher tem neste impeachment”. Vou pular essa parte porque provavelmente o sentimento feminino vai fazer com que as mulheres fiquem ofendidas com o que eu disser. Essa parte você pergunta para Janaína Paschoal, principal e grande vanguardista do impeachment. 

“Sempre lutei pela democracia”. Talvez a maior mentira já dita pela Dilma. Durante a ditadura Dilma participou de alguns grupos de resistência (só para não usar a palavra “terrorista”) em nenhum texto, ou escrito de nenhum dos grupos que ela participou encontrei a palavra “democracia”. A expressão que mais se aproximava de democracia era “ditadura do proletariado”. Sei bem disto porque já fui adepto do comunismo e outros grupos de esquerda e lia tudo o que me davam, por isso mesmo não durei muito por lá. Penso que pelo menos o passado deve ser uma coisa certa. Não devemos nos envergonhar dos acontecimentos que ajudaram a construir nossa personalidade. Todo revisionismo histórico é meio babaca. Entendo que quando a Dilma assaltava banco, sequestrava inimigos, traficava arma etc., era outro contexto e deve ser analisado sem anacronismo, é por isso mesmo que quando ela diz que lutava pela democracia, apesar de compreender sua causa, afirmo que é uma grande mentira. Nunca foi pela democracia. 

“A oposição mergulhou o país em instabilidade política, impedindo a recuperação da economia”. Outra grande mentira. A oposição não teve capacidade nem para ganhar a eleição. Afundar o país muito menos. Em 2013 escrevi um artigo dizendo que o governo havia cometido equívocos graves na economia. Escrevi neste site que um dos grandes problemas da aprovação do superávit  era a diminuição da confiança no país, pois ninguém arrisca com um governo irresponsável com as metas, mal sabia eu que a Dilma estava pensando em “deixar a meta em aberto (?) para quando atingir a meta (?) dobrar a meta (?).” Uma inovação no pensamento econômico. O raciocínio da presidente fica cada vez mais complicado quando você tem uma boa memória. Porque a culpa da crise antes de ser da oposição, segundo a própria Dilma, era da crise mundial que era a pior desde a crise de 1929 (mesmo com a bolsa de Nova York aberta – em 1929 fechou). Claro que essa crise foi uma das muitas mentiras. Muitos economistas avisavam, mas a presidente não ouvia. Chegou a dizer ao vivo que a economista Míriam Leitão estava com números errados ou coisa do tipo. Parece que os números dos economistas estavam corretos.

Para justificar que não merecia um processo de impeachment ela afirmou que não tinha contas na Suíça, não desviou dinheiro, não concorda com a corrupção etc., pode ser verdade essa parte, mas mesmo que tivesse contas em Marte; não importaria, pois o processo de impeachment não tem esse tipo de crime como foco principal. A acusação é outra. Ela foi além e chamou o processo de “farsa jurídica” (o assessor deve ter escrito para fazer uma alusão ao texto político “j’accuse” – “Eu acuso” em português, do escritor Émile Zola); só esqueceu que com isso disse que o Supremo Tribunal Federal determinou o rito de uma farsa, a Câmara dos Deputados participou, o Senado aprovou a abertura do processo e que toda investigação, oitiva de testemunha, produção de provas que acontecerá será uma grande farsa e que, ao apresentar o contraditório, ela também faz parte de toda essa mentira. Complicado. 

Ela disse em outro momento do discurso que o Michel Temer não foi eleito pelo voto do povo. Mentira. Ele recebeu tantos votos quanto ela. A foto dele aparece ao lado da foto dela e quando ele era aliado do PT era uma pessoa honrada, de confiança, conciliador, correto e fiel. Depois de romper, todas as supostas qualidades caíram por terra e ele virou o maior conspirador de todos os tempos. 

Dilma disse que trás na face as marcas do tempo e da luta. Ainda acho que as marcas são da cirurgia plástica que ela fez. Sua vida deve ter sido mesmo muito dura, penso que nem mais e nem menos do que a das pessoas que escolheram os mesmos caminhos que ela. Espero que o próximo do processo de impeachment mostre a verdade seja ela qual for. Se a verdade for a inocência da presidente, ela sairá do processo melhor do que entrou e o Brasil terá recebido uma das maiores lições de sua história. Se for sua condenação, não fiquemos presos à conversas toscas sobre farsa, golpe, perseguição etc. O processo é público, as provas serão abundantes de todos os lados. Depois de no máximo 180 dias teremos uma sentença transitada em julgado. Ponto.

Nunca acreditei na Dilma. Até quando votei nela, votei porque acreditava no Lula. Errei. Assumi meus erros e segui em frente. Não tenho preferência por nenhum partido político. Acredito que Michel Temer tenha mais condições de governar do que Dilma. Acredito que a situação dos 11 milhões de desempregados vai melhorar mais por causa da saída de Dilma do que pela entrada de Temer. Não acredito que  todos os problemas serão resolvidos de maneira rápida, até porque desconfio que o déficit maquiado seja maior que 130 bilhões. Sim, desconfio que ela mentiu sobre isso também. Ela mentiu nas eleições para se eleger, mentiu depois de eleita, mentiu depois que foi afastada e continuará. Minha opinião é de que: com Dilma no poder a solução jamais aconteceria, com Temer pode ser que ela venha a acontecer. A presidente sofrendo o impeachment (ainda não sofreu) ou não, deverá mudar seu discurso e se não puder deixar de mentir, pelo menos, deixe de faltar com a verdade.

Coluna Política // Por Pierre Logan

Formando em direito na FMU, formação em
Filosofia Geral, Fundamentos do Direito Público,
Ciência Política e Teoria Geral do Estado.


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