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AS CRISES DE PANELAS E A EXTREMA POBREZA

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Publicado em 27/02/2017 | Atualizado em 21/02/2022

Nosso mundo (falando no sentido global) passou por diversas fases ao longo da história. Quando falamos algo assim, fincamos nosso raciocínio no óbvio, no entanto, se observamos com mais precisão perceberemos que existem elementos estruturais que se modificam, mas se mantêm presentes em todas as fases. O primeiro elemento é a sociedade, o segundo é a economia e o terceiro é a política. Dificilmente um desses elementos se sustenta sem o outro. Para se saber que nosso município está passando por uma crise hídrica não é necessário que se seja um bom observador, mas será que você já reparou que nossa cidade coleciona crises sociais, econômicas e políticas? Vou tratar aqui dessas três crises evidentemente, todavia, não me furtarei de evidenciar outras crises estruturais presentes na nossa cidade.

A crise mais patente e de longe uma das mais graves é a crise hídrica. Essa é sem dúvida a mais fácil de ser resolvida e a que mais foi alvo de promessas nas campanhas políticas da cidade. O povo sofre desde a década de 90 com essas crises quase que anuais no abastecimento de água. Nessa mesma década nosso ex-prefeito (o pior de todos os anteriores) “escreveu”, acreditem, um texto que foi publicado na Folha de São Paulo intitulado O nordeste pede socorro, colocando a culpa na região onde se encontrava a outrora chamada “Olho d’água das panelas”. Falando como o problema da seca não era levado a sério e como isso fazia com que os jovens deixassem o município para tentar a vida fora etc. O objetivo era enganar (só para variar), pois quem lê de fora acredita mesmo que o único problema é a falta de investimento na questão seca (como se Panelas estivesse no sertão). O problema não só ficou pior como chegou ao cúmulo do ridículo, pois toda campanha eleitoral se falava em seca. Vereadores e “líderes políticos” passaram a utilizar isso para fins eleitoreiros. A matemática da desgraça é simples: quem trabalha na prefeitura tem dinheiro para comprar água e vota no grupo que governa, quem não trabalha na prefeitura recebe água de graça e vota no grupo que governa. Pronto. Criou-se a necessidade e daí para frente os elementos da dominação estão se estabelecendo.

Como se pode notar no fim do parágrafo anterior, o problema hídrico dialoga com o problema econômico em certa altura. Observa-se que não há um mercado de trabalho legítimo com todas as garantias trabalhistas e legais no município. Pare para analisar e será de fácil constatação que dificilmente alguém pobre que não tenha vínculo com a prefeitura fica “bem de vida”. Sabe o motivo? O motivo é a dominação dessa oligarquia estabelecida em Panelas. Os mais ricos ascendem rapidamente enquanto os mais pobres ou viajam para tentar a vida fora (como eu) ou tendem a ficar o resto da vida sendo pisoteados e trabalhando para os que tudo têm e nada dão para os que trabalham. De acordo com dados do Banco Mundial e do IBGE para ser considerado pobre o cidadão precisa ganhar mais que R$ 70,00 e menos que R$ 140,00 reais per capita (por cabeça). Se a renda mensal por cabeça for inferior ou igual a R$ 70,00 reais estará na faixa da extrema pobreza. Agora faça as contas: muita gente recebe o “benefício” da valorização humana (ou desvalorização humana), digamos que o valor esteja na casa dos R$ 200 reais, agora digamos que essa seja a única renda dessa família que é constituída de um pai, uma mãe e uma criança (na maioria dos casos as famílias são maiores); teremos, portanto, uma dízima periódica de R$ 66,666666666 per capita, o que significa que essas pessoas pertencem a classe da extrema pobreza. O que obviamente nos diz é que a maioria da população Panelense é extremamente pobre. Considere isso como um tipo de “crise econômica”, apenas para fins didáticos.

Se a crise hídrica dialoga com a econômica, essa última dialoga com a política e veja que o círculo vai se fechando. Os políticos do município, especialmente os vereadores, nunca apresentaram um só projeto verdadeiramente eficaz para resolver a situação de uma vez por todas. Muitos nasceram, cresceram e morreram sem poder dizer que tinham uma profissão. Isso não acontece porque uma população independente seria o fim dos politiqueiros aventureiros de prontidão (maioria dos políticos panelenses). Com um povo financeiramente independente não há chances de vitória para muitos dos que estão no desgoverno hoje.

Para fechar o círculo chegamos ao elemento “sociedade”. Se a crise hídrica dialoga com a econômica, a econômica com a política; a política dialoga com a sociedade e vice-versa. A sociedade vota nos políticos para que eles proporcionem de volta as necessidades mais básicas (como água), uma economia que, pelo menos, dê chance de lutar por uma condição de vida mais digna para que possam continuar vivendo em sociedade de forma menos desigual. Um dos objetivos precípuos da sociedade é justamente a segurança. Agora percebemos que o círculo se fecha: Falta do básico (água) + economia precária + políticos picaretas = sociedade em miséria. Observe a inversão: se a sociedade está em estado de miséria vota no político picareta, que deixará ela eternamente sem o básico (agua, emprego, saúde, educação) para que ela continue na miséria votando em picaretas que nunca resolverão o problema, deixando a sociedade na miséria que votará em picaretas… o ciclo é eternamente repetido. Isso chama-se DOMINAÇÃO.

Agora chegamos a última crise deste texto (existem outras que não tratarei aqui). Se existe uma crise na sociedade é preciso identificar o problema. A sociedade e constituída de pessoas, portanto, é natural que possamos pressupor que há uma crise estrutural do próprio ser humano. Todo esse processo sergianista que já passa dos 20 anos, juntamente com a falta de oposição, criou uma geração medrosa, inculta, insegura e despreocupada com o que verdadeiramente importa. As pessoas têm medo de falar o que pensam e perderem o pouco do que têm. Os boatos ocupam o lugar da notícia e passam a não saber diferenciar uma coisa da outra. 

A falta de cultura faz com que as pessoas desconheçam seus direitos e passem a achar que tudo é um favor. Tudo isso cria uma geração de pessoas inseguras que temem inclusive atentados contra a própria vida (como tantos me alertam). Poucos decidem defender o que pensam e acreditam com a própria vida, poucos escolhem a responsabilidade da liberdade e suas consequências. Poucos decidem capitanear o próprio destino e deixam as rédeas de sua vida nas mãos de um prefeitinho (a) qualquer. Entregam-se de maneira subserviente e passam a conviver com a resignação diária que os empurra para o alcoolismo, drogas, discussões idiotas e uma vida assustadoramente vazia. Das muitas crises presentes hoje na minha amada cidade de Panelas, a maior de todas é o aprisionamento voluntário das faculdades de sentir amor próprio. Aquele que ama a si, ama também a o outro que enxerga em si mesmo e o eu que enxerga no outro; desta forma não se acovarda, não se entrega, não se vende, não se submete a quem quer que seja o algoz que ameace suprimir qualquer um de seus direitos. Já passou da hora de acabar a era sergianista em Panelas. É hora de parar de dar a César o que é de Deus e a Deus o que é de César. 

Coluna Política // Por Pierre Logan

Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. OAB-SP 218968E.


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