Publicado em 23/07/2018 | Atualizado em 21/02/2022
Jesus, também conhecido como Jesus de Nazaré é sem sombra de dúvida a figura central do cristianismo. Os judeus messiânicos o consideram o Filho de Deus e muitas outras denominações religiosas também. Todos conhecem sua história, pois a aprendemos de uma forma ou de outra ao longo de nossas vidas. Jesus deixou dois mandamentos muito simples: “Amar Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo”. Foi crucificado e morto pelos agentes da política romana da época. Sim, acreditem ou não, os maiores perseguidores do Cristo foram os políticos da época que acreditavam ter seu poder e sua dominação ameaçados pelas mensagens daquele jovem rapaz.
Em uma das muitas situações que o nazareno se meteu e uma das passagens mais famosas da bíblia, alguém o interpelou (maliciosamente): “é lícito dar tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos?” (Marcos 12:13-14). Jesus pede uma moeda, mostra que a imagem da moeda é do César e responde sabiamente: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Marcos 12: 17). Com isso o Cristo deixa claro que devemos pagar nossos impostos, respeitar as convenções sociais e entregar ao o mundo o que é do mundo; e venerar, adorar e ter Fé somente no Divino. O que será que isso tem a ver com Panelas?
O título deixa claro que nossa população; por falta de Fé, por hipocrisia, por fraqueza de espírito ou por falta de colhões mesmo, anda invertendo vergonhosamente os valores. A população está dando para muitos césares o que é de Deus. Basta chegar na frente da prefeitura e dizer que o ex-prefeito é um bosta. Alguns sergianistas não vão nem entrar no mérito de não ser educado adjetivar alguém (político ou não) daquela forma. O que vão dizer é que aquele santo político doou sua vida (enquanto enriquecia) para o município e que todo e qualquer partidário é o suprassumo da honestidade e do trabalho sério. Vão dizer que seus comparsas são o paroxismo do comportamento exemplar.
Não há uma prova que convença o indivíduo a mudar sua fé no político que, segundo ele, é um exemplo para todos. O panelense, talvez, seja uma exceção na conjuntura política brasileira, pois enquanto todo o país desconfia dos políticos e já percebeu que o sistema foi construído para privilegiar as oligarquias e manter a dominação de algumas famílias ou de grupos espúrios, a maioria dos eleitores do nosso município, acredita piamente que um determinado político ou um determinado grupo está querendo desgovernar Panelas pelo amor incondicional que sente pelo povo e não pelos 73 milhões de reais enviados para nossa cidade somente em 2017.
As variadas oligarquias que dominam nossa cidade construíram uma narrativa pobre e logicamente inconsistente. Narrativa essa que só se sustenta na prática quando se mantém a população imersa na ignorância, na necessidade e na covardia. O péssimo nível da educação e a incapacidade quase que absoluta de entender a própria realidade é falseada pelos “artistas” e intelectuais que são incompetentes demais para construir o imaginário coletivo. Esses e outros fatores contribuem para a santificação dos políticos e canonização dos maus.
Pelo óbvio deveríamos entregar nossos impostos, contribuir com nossos deveres e cobrar nossos direitos. Ponto. Não devemos entregar nada mais a eles. Mesmo o respeito deve ser conquistado. Não temos a obrigação de acreditar em nenhum outro indivíduo se o mesmo indivíduo não nos der razões para acreditar nele. Vereadores, assessores, prefeitos ou politiqueiros de uma maneira geral, não devem receber nada além do que a lei prevê, também não devem dar nada além disso. Não pedimos, nem imploramos nada a político nenhum, exigimos que a lei seja cumprida, pois a lei é a única coisa que garante a sustentação da sociedade. Sem lei que respeite o cidadão, não há razão de o cidadão respeitar a lei, logo, nenhum politiqueiro está seguro porque sua única garantia também é a lei. “Contrato social” nada mais é que direitos e obrigações nos dois polos da relação.
Já para com Deus, não podemos exigir nada Dele, nem cobrar alguma coisa, pois não há relação contratual, há na verdade uma relação de misericórdia. Deus não pede nada deste mundo, tanto é que Ele quer sua Fé (coisa que não existe materialmente aqui) e mesmo os efeitos da fé, mesmo as obras boas que construímos ficam. Deus quer apenas o que tem valor, esse negócio de preço é coisa de ser humano.
Para concluir, lembro que o caminho é não entregar nem fé e nem esperança ao político. Não é de bom alvitre esperar que tenham compaixão da miserabilidade do povo, pois a miséria do nosso povo foi criada, alimentada e é rigorosamente sustentada por eles. Devemos entregar a Deus e somente a ele nossa submissão, nossa Fé, nossa esperança, nosso temor e tremor. Isso chama-se dar “a Deus o que é de Deus”. Pois quando entregamos coisas de Deus a César, passamos a adorar o que não deve ser adorado, construímos assim, paulatinamente, o diabo a nossa própria imagem e semelhança.
Coluna Política // Por Pierre Logan
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. Contato: [email protected] ou [email protected]
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