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Elogio ao ódio

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“Ninguém, seja cidadão ou político, nega que o ódio exista.”
Sem dúvida essa é uma das palavras mais usadas no campo político ultimamente. Ficando atrás das triviais: “transparência”, “democracia”, “ética”… Mas diferente das outras palavras, o ódio é tido como um sentimento negativo, inconveniente, prejudicial, nocivo, maléfico etc., entretanto; venho em defesa desse sentimento que anda assustando muito os políticos do nosso país seja na esfera Federal, Estadual ou Municipal. Perceberão durante a leitura desse artigo que existe um motivo para terem tanto “ódio ao ódio” e discursarem quase sempre contra ele, e, não é o bem comum.
Não pensem amigos leitores, que estou sozinho na tarefa de elogiar, defender e recomendar o ódio (sempre baseado no meio-termo de Aristóteles), trago comigo ideias de São Tomás de Aquino, Rui Barbosa, Padre Manuel Bernardes, Charles Darwin, Érico Veríssimo, Honoré Balzac, Schopenhauer, a Bíblia Sagrada entre outros. Tratarei de modo filosófico, mas com dados históricos que nos ajudarão a compreender o motivo de políticos temerem tanto o ódio.
Antes de iniciar é necessário lembrar que ninguém, seja cidadão ou político, nega que o ódio exista. Todos concordam que esse sentimento está presente em suas vidas de modo frequente, as vezes latente, mas o ódio sempre está ali. O que negamos com mais frequência do que queremos admitir é que o ódio está em nós, apesar de sempre dizermos que está no outro. O problema está sempre no outro. O ódio está sempre no outro, e só tem sentido no outro. Envergonhamos-nos desse sentimento. Bem, isso começará a mudar.
Começaremos com Rui Barbosa: “Porque o ódio ao mal é amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino”. Nosso célebre conterrâneo não explica em seu discurso, mas acredito que a forma com que ele trabalha “ódio” e “ira” em sua frase nos remete a Bíblia Sagrada que usa duas palavras gregas no Novo Testamento para “ira”. 1° Orge: paixão, energia; 2° Thumos; agitado, fervendo. Em outros dicionários é possível encontrar uma definição de ira como sendo: “emoção excessiva, paixão despertada por um sentimento de injustiça”, mas biblicamente é uma energia dada por Deus para ajudar a resolver problemas. Lembre-se de como Jesus fica irado quando vendilhões difamavam o templo de Deus (João 2;13-18), como Paulo confronta Pedro por seu mau exemplo em Gálatas (2:11; 14). Com isso percebemos que em momento nenhum a ira é usada para autodefesa, mas para defesa de princípios.
Irascimini, et nolite peccare (Irai-vos, mas não pequeis) – Livro dos Salmos 4 (Efésios; 4,26). Explica o Padre Manuel Bernardes: “E às vezes poderá haver pecado, se não houver ira; porquanto a paciência, e silêncio, fomenta a negligência dos maus, e tenta a perseveranças dos bons”. Observe que esse trecho dialoga diretamente com a Suma Teológica de São Tomás de Aquino: “Quem à toa se ira, peca, pois a paciência irracional semeia vícios, alimenta a negligência e excita ao mal não apenas os maus, quando não os bons”. Em outros termos, jamais devemos aceitar pacificamente uma injustiça contra princípios que moldam uma sociedade. Calar-se diante do mal é colaborar para com o que é mal. Irar-se com o que é ruim é levantar-se em defesa do bem, do justo. Pois como afirma o bom padre: “Nem o irar-se nesses termos é contra a mansidão, porque essa virtude compreende dois atos: um é reprimir a ira, quando é desordenada; outro excitá-la, quando convém. A ira se compara ao cão que ao ladrão ladra, ao senhor festeja, ao hóspede nem festeja, nem ladra; e sempre faz o seu ofício”.
É importante salientar que quando mantemo-nos em mansidão diante de descasos como o que acontece hoje em Panelas ou mesmo no Brasil estamos colaborando para que o descaso permaneça. Lembro que fatos históricos como repressão ao Quilombo de Palmares (século XVII), repressão a Canudos (segunda maior cidade da Bahia) com toda sua população praticamente exterminada, Guerra do Contestado (já na república) usaram bombardeio aéreo para atacar a própria população brasileira, e nunca se disse que o “governo” sentiu ódio. Ora, devemos então permanecer em mansidão diante das agressões frequentes à nossa história e ao nosso futuro? Devemos nos ajoelhar e amar nossos algozes, agradecendo pelas injustiças que nos são feitas diariamente? Rui Barbosa nos lembra de que o Jesus iroso que açoita os maus é o mesmo Jesus que morre na cruz pelo amor aos bons.
Charles Darwin (1809-1882) em sua obra expressões das emoções no homem e nos animais; associa à raiva a expectativa de sofrer alguma agressão intencional ou ofensa de outra pessoa. Voltamos mais uma vez para a necessidade de “irar-se com o que é oportuno, e com quem é oportuno”. Costumamos repudiar o ódio, a ira e caracterizar como manso as pessoas de “sangue frio”, pessoas que não costumam ira-se com nada e que parecem serem incapazes de odiar o que quer que seja (inclusive o que é mau). Schopenhauer nos diz algo importante sobre isso: “Não devemos mostrar nossa cólera ou nosso ódio se não por meio de atos. Os animais de sangue frio são os únicos que têm veneno”. Ou seja, cuidado com a paciência em demasia, o vizinho inofensivo pode se esconder em baixo da cama se ver alguém pular o seu quintal. Érico Veríssimo nos alerta: “o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença…”. A cena em que uma moça é esfaqueada em plena luz do dia enquanto os que passam fingem que nada está acontecendo é uma boa ilustração para a questão.

“O ódio é do bem quando odeia o que é ruim. A ira é justa quando erguida contra a injustiça.”

Por fim, guardei Honoré de Balzac porque acredito que seja o que descreve melhor o motivo dos políticos pedirem para que a população não se ire, não sinta ódio e permaneça em mansidão tal qual um animal despreocupado com o abate: “o ódio tem melhor memória que o amor”. Todo político teme que a população se rebele, e trabalha em cima da perda de memória recente do povo. Preocupam-se diariamente com sua imagem, sua popularidade, sua aceitação. O ódio é do bem quando odeia o que é ruim. A ira é justa quando erguida contra a injustiça. O ódio à corrupção, aos desmandos, aos desvios, malversação do erário, negligência dos princípios da administração é bom. Viva ao ódio que odeia a injustiça! Libertem o ódio que defende a liberdade! Vamos laurear o ódio que promove a queda de corruptos! A ira que não peca, porque não semeia vícios, mas sim, reestabelece a paz, pois “quem se ira com o que é oportuno; esse pode manter-se em mansidão”. Odiemos que semeia a fome! Odiemos quem semeia o mal! Odiemos quem semeia a guerra porque o que causa a guerra não é o ódio, mas a ganância! Odiosos de todos os países, uni-vos!

Por Pierre Logan

Odiosos de todos os países, uni-vos!


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