Em tempos de discursos calorosos sobre o quão enojável é a corrupção – quase sempre a de nível político – em nosso país, convido você, leitor, a pensar comigo como outras formas de corrupção têm passado quase que desapercebidas sob o nosso olhar seletivamente indignável.
Como sabem, escrevo meus artigos priorizando temáticas ligadas à educação, pensando nisso, comecei a ler sobre o assunto, principalmente sobre como a corrupção tem sido sorrateiramente propagada em nossas escolas. Aos que gostam de números, em meados de outubro do ano passado a Unicarioca realizou uma pesquisa com 1100 alunos do Ensino Médio e Superior, a idade variou de 16 a 30 anos. Os dados comprovaram o que nossa intuição de professor já identificava: nossas escolas têm cultivado sistematicamente uma aptidão à corrupção desde os primeiros anos escolares.
Segundo a pesquisa, 69% dos entrevistados já colaram (filaram), 68% já copiaram textos da internet para trabalhos, 59% já assinaram lista de presença por outra pessoa e 58% já pediram para colocar o nome em trabalhos de grupo dos quais não faziam parte, como mostra o quadro abaixo. O difícil é reconhecer que esses ‘pequenos’ atos são do conhecimento dos professores, dos demais colegas de turma, como também dos próprios pais desses alunos. É aí que nos perguntamos: como formar cidadãos de bem (este é o objetivo principal das escolas) em ambientes que têm se mostrado abertos à fraude, à manipulação e à cumplicidade de educadores, familiares e demais envolvidos?
A resposta não é fácil, muito menos eficaz a curto prazo. A cidadania se faz em um longo processo de exercício, é preciso praticar, mais que unicamente ouvir. Mas como para praticar precisamos conhecer, debater o tema nas aulas também é muito importante. No Acre, uma lei sancionada pelo Governador Tião Viana determina que neste ano as escolas acreanas, tanto públicas quanto privadas, acrescentem à grade curricular a disciplina “Política, politicagem e conscientização contra a corrupção”, o objetivo é desenvolver nos alunos uma consciência política do que é a corrupção e de suas consequências para a sociedade em geral. Outro ponto forte de combate à corrupção nas nossas escolas está nas punições. Em algumas faculdades dos Estados Unidos o aluno pego plagiando trabalho é julgado por um “tribunal” interno que pode decidir suspendê-lo ou até mesmo expulsá-lo da Instituição.
“Não podemos pensar que a corrupção é feita de atos instantâneos que florecem na idade adulta, o caráter de um cidadão se forma ainda na infância”
Ao término deste texto, você pode pensar que foi um exagero equiparar a corrupção política com o que acontece nas escolas do nosso país. Mas não é exagero afirmar que a desonestidade começa nas pequenas coisas, não podemos pensar que a corrupção é feita de atos instantâneos que florecem na idade adulta, o caráter de um cidadão se forma ainda na infância, como afirmam os estudos em Psicologia. Atitudes desonestas precisam ser julgadas como tal, caso contrário, teremos gerações futuras (no presente também temos) que se indignam com a corrupção alheia, mas se calam frente aos atos desonestos que praticam diariamente. Compartilho com o que disse Sergio Fajardo: “É hipócrita quem critica a corrupção genérica e em grande escala e pratica a corrupção cotidiana.”. Ajudemos na construção de uma sociedade menos hipócrita e mais coerente, comecemos por nós mesmos.
Coluna Educação // Por Sheila Alves
Professora, graduada pela UPE em Letras e
especialização em Ensino de Língua Portuguesa e suas Literaturas.
E membro fundador da Associação Comunitária de São Lázaro (Panelas-PE).
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E membro fundador da Associação Comunitária de São Lázaro (Panelas-PE).
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