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Um domingo qualquer…

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A vida não é uma festa. A vida é uma sucessão de acontecimentos que passam por nós como uma máquina de triturar sonhos, um tipo de manifestação de sentidos e sentimentos. Os sonhos vão morrendo ou crescendo com o tempo; na medida em que o tempo vai diminuindo ou aumentando nossas chances. O que cargas d’água isso tem a ver com política, Pierre? Não parece, mas tem tudo a ver com política. 

A primeira frase deste texto disse que a vida não é uma festa. Realmente não é, a festa é algo criado para ornamentar a vida. Para alguns grandes estadistas um “estorvo necessário”, para outros “uma anestesia” ou ainda uma “mísera e inútil distração”. As três definições fazem muito sentido. Não discordo de nenhuma delas porque não me sinto preparado para discordar de pessoas como Abraham Lincoln, no entanto, tenho minha própria opinião sobre festas. Penso nelas como uma má representação do que gostaríamos que a vida fosse, ou pelo menos como gostaríamos que acabasse o dia. 

Comemoramos no dia 1° de maio o Dia do Trabalhador. Mas inicialmente não era uma festa, era uma luta. Em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos milhares de trabalhadores realizaram uma manifestação para reduzir a jornada de trabalho para oito horas diárias. Começou no dia 3 de maio e naquele dia ironicamente morreram três pessoas. No dia 4° de maio (dia seguinte) houve outro protesto e mais pessoas morreriam naquele dia. algumas pessoas se feriram outras foram presas e muitas morreram. O episódio ficou conhecido na história como Revolta de Haimarcet. Três anos mais tarde os trabalhadores decidiram realizar protestos anualmente com o objetivo de lutar pelas benditas oito horas de labuta diária. O dia escolhido foi o dia primeiro de maio para homenagear aquelas pessoas que lutaram em Chicago. 

Seria bom que tudo tivesse sido resolvido sem mais derramamento de sangue, infelizmente não foi. Em 1° de maio de 1891 em uma manifestação no norte da França mais dez manifestantes morreriam. O dia ficou marcado como um dia de luta pela redução das horas diárias de trabalho e foi somente em 23 de abril de 1919 que o senado francês ratificou a jornada de oito horas e proclamou o dia 1° de maio feriado. Daí para frente muitos países passaram a comemorar o dia do trabalhador até que certo dia, alunos panelenses e professores (história já conhecida por todos nós) organizam uma festa que homenageava o trabalhador e buscava proteger o jumento, simbolo do trabalho, na nossa região.
Inicialmente se buscava recursos de onde se pudia e movimentava-se amigos, parentes, familiares, enfim; a comunidade como um todo. Hoje movimenta-se apenas a máquina pública para realizar a festa. Como sabemos, a festa é feita com nosso dinheiro e por essa razão devemos saber como e quanto está sendo gasto. Como sabemos a prefeitura não gosta muito de ser transparente (assim como a Câmara). O que nos leva novamente ao exemplo dos trabalhadores de Chicago. Eles lutavam por um direito que ainda não tinham. Lutaram por algo que acreditavam e muitos morreram por isso. A transparência é um direito garantido. Será que temos a coragem de lutar por algo assim, ou vamos ficar só na festa?

Não me entenda mal; não estou dizendo que o Festival Nacional de Jericos seja algo ruim, acredito que seja uma das melhores coisas do Município. Acredito também que seria melhor se aproveitássemos a festa com a certeza de que não estamos sendo enganados enquanto nos divertimos. Caso contrário a frase “tem jegue na pista” teria uma outra conotação e bem irônica, diga-se de passagem.

Penso que o Festival tem muitos lados favoráveis. Para começar; quem não é cego (sabem de que cegueira estou falando) já deve ter percebido que reformas de certas praças só andam quando a festa está para chegar. Quem ainda não notou que medidas são tomadas para maquiar  determinadas obras e “coisas inacabadas” sempre pertinho da festa? Pois é, todos concordam que com maquiagem e fantasia tudo aparenta estar mais bonito. Só não podemos esquecer que a festa acaba.

“Quando a festa acaba resta a lembrança. Quando a luta acaba temos um direito. Uma festa é uma manifestação do que já foi uma luta. Uma festa jamais pode virar um feriado. Feriados são comemorados com festas, mas fabricados com sangue” 

A festa acaba para quem foi eleitor e para quem foi eleito. Acaba para a banda que toca e para o público que aplaude. Acaba para os que dançam e para os que fazem a população dançar. As festas costumam acabar. Como eu disse no começo? Ah, sim: “A vida não é uma festa”, é uma “sucessão de acontecimentos”. No final da festa temos a ressaca. No final da manifestação temos o resultado. Durante a festa temos a comemoração. Durante a manifestação temos o desejo de luta. Quando a festa acaba resta a lembrança. Quando a luta acaba temos um direito. Uma festa é uma manifestação do que já foi uma luta. Uma festa jamais pode virar um feriado. Feriados são comemorados com festas, mas fabricados com sangue. 

Coluna Política // Por Pierre Logan

Bacharelando em direito na FMU, formação em
Filosofia e Filosofia Geral, Fundamentos do Direito Público,
Ciência Política e Teoria Geral do Estado.


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