Publicado em 30/08/2016 | Atualizado em 21/02/2022
Também acho chato demais quando alguém usa títulos que nada tem a ver com o texto para chamar nossa atenção. Chega a ser ridículo, mas se quisermos fazer a coisa certa muitas vezes temos que perder o medo do estranho, precisamos muitas vezes ser um pouco mais heteróclitos. Eu já devo ter dito em algum texto deste site que é quase impossível perder para Lourinho Macunaíma, então, pulemos a parte em que analiso os políticos e seus fétidos discursos para analisar a postura popular e a miséria democrática. Só para lembrar: minha estratégia para provar que o povo cai em qualquer conversa deu certo.
“Se a maioria concordar, a mentira será aceita como verdade”
Platão tinha sérios questionamentos sobre a democracia. De certo modo seu pensamento não foi nem de longe refutado por qualquer outro pensador posterior, por esta razão não podemos ter este ponto como uma ideia antiga e superada. Em linhas gerais, Platão dizia que a democracia podia ser nociva, pois não é um sistema em que se busca a verdade, mas sim, um sistema em que; se a maioria concordar, a mentira será aceita como verdade. Algo ruim pode ser tido como algo bom na democracia se caso a maioria assim o diga. É evidente que o pensamento platônico acertou em cheio. Posteriormente outros filósofos e pensadores da política disseram que a democracia não é um sistema ideal, no entanto, é o menos ruim. É patente que, de certo modo, esse último pensamento concorda com o anterior a ele. Mas o que isso tem a ver com Panelas?
“A política panelense é construída mais pela imbecilidade dos eleitores que pela esperteza dos candidatos”
Muito simples. Não se trata do que o debate tem a ver com Panelas, mas o que Panelas tem a ver com o debate. O que está, creio eu, implícito no pensamento de Platão é que, para a democracia dar certo, precisaríamos de um nível intelectual razoável de políticos e eleitores. Necessitaríamos, neste caso, de um uso um pouco mais elevado da razão. Cidadãos que pensassem com a cabeça, não com a barriga ou com o bolso (este último é a verdadeira razão para tanta briga na política panelense). Não é difícil de entender, menos ainda de observar como todo o sistema está viciado. Por essa razão vou apresentar alguns argumentos que mostram que a política putrefata e carcomida panelense é construída mais pela imbecilidade dos eleitores que pela esperteza dos candidatos.
Quantas pessoas saíram às ruas para protestar contra aquela taxa de energia elétrica? Isso mesmo, nenhuma. Lembro-me que, naquela bendita reunião, a Câmara estava tão cheia quanto um recipiente vazio. Quantos cidadãos honestos protestaram contra a aprovação das contas rejeitadas do prefeito? Onde estavam os líderes de oposição e a população “oposicionista” em geral? Vocês por acaso chegaram a ver passeatas, carreatas ou coisa do tipo? Não, não vislumbraram o invisível e utópico evento democrático. A desculpa principal era a falta de tempo.
Hoje o que vemos? Carros com bandeiras, vidros com adesivos, músicas de artistas que, de certa forma, não ganham só com a arte, pois poucos conseguem esse privilégio. Os fraquinhos têm que viver de cover, que não é necessariamente a mimese aristotélica, mas a mesma força que repousa sobre as marionetes. Inegável é sua participação (querendo ou não) central na arte da repetição e no desgaste da cultura popular. O povo sai às ruas não para protestar contra o que reduziu parte de sua vida a miséria. Os cidadãos não caminham cantando o hino municipal e dizendo que não serão mais estuprados pelo governo. Os eleitores que nunca foram a câmara dizem acompanhar a política e reforçam o amor pela democracia e acompanhamento diário dos andamentos processuais dos vários processos do atual prefeito (muitos perdidos, ao contrário do que reza a lenda) e votam, voltam, revoltam-se contra os que dizem que esse é o caminho errado.
Não é do cidadão do campo que estou falando. O preconceito de cunho provincial é de exclusiva detenção daqueles candidatos que esqueceram que os sítios existiam, no entanto, caminham pelas estradas empoeiradas e cerram os punhos para convencer (efeito teatral conhecido) de que lutarão por aqueles trabalhadores e que estes, nem precisam ir a câmara para comprovar a promessa. Estou falando do cidadão da cidade. Sim, de homens domesticados que saem quando seus senhores mandam sair e trancam-se quando mandam trancar-se. Daqueles que ganham dinheiro e só conseguem provar que dinheiro é bom demais, mas só dinheiro não resolve o problema. Pessoas que estudam em cursos superior, outros que já se formaram (difícil porque a maioria que se forma sai). Cidadãos que conseguem passar nas provas universitárias, mas falham terrivelmente nas provas da vida. Pessoas que não conseguem entender a diferença entre o trabalho digno e a venda da própria alma.
“A democracia não começa quando você escolhe e termina quando você vota. Ela vai muito mais além”
Não tem como a democracia funcionar quando você não usa a razão para votar. Não tem como a democracia funcionar se você finge que acredita nas mentiras que seu candidato conta. Não é possível vislumbrar o sucesso da democracia enquanto eleitores manifestarem-se, inutilmente, somente em campanhas eleitorais. Não tem como funcionar porque a democracia não começa quando você escolhe e termina quando você vota. Ela vai muito mais além. Eleitores lotam as ruas, cantam, brigam, discutem e acham que faz parte do jogo, e, de certo modo, estão certos. Só estão equivocados quando acham que são peças importantes no jogo democrático (como dizem os políticos), são peões e peões são sacrificados o jogo inteiro, tornam-se peças fortes somente quando atravessam o tabuleiro e mudam. Agora, se você acha que minhas colocações são fracas porque pegaram ideias de um pensador de cerca de três séculos antes de Cristo, lembre-se que a ideia de democracia surgiu na época dele e que até hoje não se inventou algo melhor, isso sim é ridículo, ainda mais estúpido que aplaudir uma pessoa que você sabe que não te representaria jamais.
Coluna Política // Por Pierre Logan
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias.
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