Publicado em 19/09/2016 | Atualizado em 21/02/2022
Ontem eu conversava com um jovem de Panelas quando ele me falou que apesar de acompanhar a política panelense com cuidado durante os últimos quatro anos, não sabia em quem votar. Dei uma dica de quem votaria para vereador se fosse ele e confessei que anularia o voto para prefeito. Arrumar brigas e discussões é fácil, o difícil é assumir que não temos de fato um bom candidato que represente de verdade os interesses de Panelas.
“políticos ruins não caem do céu, eles são eleitos”
Os idiotas costumam ter certeza de tudo, os inteligentes duvidam de muita coisa. A indecisão do meu jovem interlocutor é mais compreensível do que a certeza daqueles que bradam de punhos cerrados o nome de políticos antigos com costumes antigos e visão retrógrada. E antes que alguém diga que “a política é suja” é interessante antecipar-me e dizer que a política não “é” suja, ela apenas “está” suja pelas más escolhas que fazemos enquanto únicos responsáveis pela limpeza que, em tese, as eleições periódicas nos proporcionariam. Se vamos começar a falar de forma séria sobre um assunto, vamos pelo menos começar partindo do pressuposto que “políticos ruins não caem do céu, eles são eleitos” (estou cansado de repetir isso, mas a humanidade anda desatenta).
Quando paro para observar as imagens e os vídeos da política do nosso município, interpelo a mim mesmo se de fato não estou perdendo meu tempo. Penso em abandonar essa luta boba de querer dar a maioria da população o que ela não faz o mínimo esforço para ter. Nesses momentos de pessimismo reflexivo eu costumava parar para conversar com alguém de Panelas o que aumentava quase sempre minha depressão. Cheguei à conclusão de que cada um está preocupado com seus interesses. Cada um tem um mundo só seu e quase sempre se esquece de que há um mundo coletivo que também precisa de cuidado e atenção. Quase sempre nos concentramos no nosso “eu” e esquecemos o “nós”. Isso é o contrário do que deveria ser a política. Acho que chegamos ao ponto.
O jovem com quem eu conversava estava preocupado com o “Nós” por isso sua indecisão. Ele sabe que não vai passar muito tempo em Panelas. Ele está estudando e não vai deixar de sustentar a família e ser um profissional de sucesso para puxar saco de prefeito (ou prefeita) e receber um salário de estagiário. Sua preocupação não estava ligada ao interesse pessoal apenas, pois se assim o fosse a escolha seria fácil. Quando me preocupo apenas comigo não preciso pensar muito, basta observar o que é melhor para mim e escolher. Dane-se o resto. Não há indecisão em casos assim.
O que estou tentando dizer é que quando pensamos no “nós” estamos nos referindo a ética. Ética quer dizer (grosso modo) a busca da melhor convivência para todos. O que significa que a única decisão difícil e inteligente é a decisão ética. Observe. Se penso apenas em mim não estou tratando de ética. Se não penso em ética me afasto de uma convivência agradável com meus amigos, conhecidos, desconhecidos etc.
É fácil de entender quando pensamos nestas questões o porquê de Panelas está numa situação desastrosa como a atual. Está explicado o motivo de hoje a aparência ser o que prevalece no município. Pessoas estão afoitas para elogiar, sorrir, mascarar toda e qualquer situação em que de alguma forma possa sair beneficiado.
A indecisão inteligente pode ser a única coisa capaz de fazer o mínimo de sentido numa campanha que mostra-se igual as campanhas de dezenas de anos atrás, numa sociedade que pensa que está comportando-se como moderna; em uma cidade que insiste em não sair do passado. Panelas é hoje uma cidade perdida no tempo.
Coluna Política // Por Pierre Logan
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias.
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