Publicado em 24/10/2016 | Atualizado em 21/02/2022
“O mundo evoluiu bastante em tecnologia, medicina etc., mas no que concerne a organização política, social; ainda estamos flertando com paleolítico”
Vivemos numa época bem complicada. Se os valores estão ou não invertidos não posso dizer com certeza, mas posso afirmar com convicção de que nosso mundo não é baseado em lógica, nossas conversas não têm sido coerentes e nossas vidas não são pautadas pela verdade. Poderíamos concluir que sempre foi assim, no entanto, seria simplório demais de nossa parte. O mundo evoluiu bastante em tecnologia, medicina etc., mas no que concerne a organização política, social; ainda estamos flertando com paleolítico.
No teatro político das eleições municipais, atores que faziam papel de políticos comprometidos vibraram suas cordas vocais e cerraram seus punhos para proferir discursos sobre educação, segurança, solidariedade e pediram confiança. Mais do mesmo. A vida segue. Escolhemos a ilusão de que seremos representados porque quando não nos sentirmos representados teremos como jogar a culpa num sujeito indeterminado: “políticos”. Nunca identificaremos os culpados porque quando nos referimos a “políticos” culpados pela falta do básico para que vivamos com dignidade, estamos nos referindo aqueles que estão longe. Não ligamos para saber o que é competência de quem, mas atribuiremos as pessoas distantes a culpa pela nossa desgraça. Sempre culparemos o presidente, governador, mas nunca o prefeito e seus vereadores.
“Sempre buscamos invejar quem está perto e culpar quem está longe”
Quando Panelas teve sua anual crise hídrica pusemos a culpa no governador Eduardo Campos. Quando a taxa de energia elétrica subiu mais que o normal escolhemos a presidente Dilma para culpar. Sempre buscamos invejar quem está perto e culpar quem está longe. Poucos pararam para pensar que em muitas cidades a seca foi forte, mas somente nosso município entrou em colapso ou que houve um projeto votado na Câmara para aumentar a taxa de energia. As ordens vieram do Executivo, e o Legislativo, subserviente, aprovou sem questionar.
Perdemos a noção do ridículo. Sim. Ouvimos os discursos apenas para nos certificarmos de que estamos fingindo bem que nos enganam, todavia, nenhum discurso político difere muito dos outros que já estamos cansados de ouvir. Nos alimentamos de falsas promessas, falsas conversas, falsas pessoas, falsos discursos e, não acreditando nesses discursos, estamos fadados a não termos mais nem decepções verdadeiras.
Desde que saí de Panelas perdi amigos. A maioria morreu em acidentes. Difícil, nesses casos atribuir a culpa a quem está longe. Então, o que fazemos? Culpamos as estradas, as bebidas, os veículos ou os mortos? É normal que em uma cidade pequena como a nossa, tantas pessoas morram de maneira trágica? É normal que tenhamos um número assustador de veículos alienados, jovens alcoólatras, assaltos, roubos e uma dificuldade imensa para “educar” pessoas? Penso que a responsabilidade de buscar uma solução para um problema recorrente seja do governo municipal.
O grande problema é que para resolver um problema o desgoverno panelense sempre arruma um problema ainda maior. Entremos, por exemplo, na questão da violência. Em vez de o prefeito acionar o governador (seu companheiro) para que envie mais policiais para o município, já que a polícia militar é de responsabilidade do Estado, criaram um projeto de lei inconstitucional que criava uma guarda municipal inconstitucional. Em outras palavras, você não só não resolve o problema da violência como cria outro maior, pois se um governo não respeita a Carta Magna, torna-se ele mesmo ilegal. Se você é um dos que argumentam que a violência diminuiu, imagine um grupo paramilitar em cada esquina, isso também diminuiria a violência, não obstante, não estaria dentro da lei. A principal dificuldade de combater o crime consiste justamente em combate-lo de forma legal.
Na questão dos acidentes o negócio é um pouco mais complicado porque até onde se sabe nunca se fez nada para resolver o problema. Por vários motivos não buscam uma resolução para questão, a principal delas é a finalidade eleitoreira da cegueira deliberada do poder público (grifo nosso). O número de crianças pilotando motos, dirigindo carros e entregues as drogas legais, beira o absurdo. Não há nenhum trabalho da parte da prefeitura para educar, preparar, conscientizar etc., as pessoas. Não existe a preocupação de habilitar pessoas e deixa-las aptas para dirigir, legalizar veículos, multar infratores, já que a educação quando não preventiva deve ser coercitiva em casos assim. Cada jovem embriagado ou despreparado conduzindo um veículo é uma arma apontada para própria cabeça e para a cabeça da sociedade (motoristas e pedestres).
A verdade é que com os anos Panelas não só fica cada vez menor no sentido econômico, social e, porque não, populacional, como também vem se apequenando de forma desorganizada. Não entendemos até onde vai a jurisdição de um ou de outro. O cidadão não entende e, muitas vezes, a autoridade estatal também não, já que acha que pode tudo e fazem os cidadãos crerem que nada podem. Vivemos em um mundo estranho. Não sei se os valores estão invertidos ou todo o resto é que está de cabeça para baixo.
Coluna Política // Por Pierre Logan
Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias.
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