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Antes do pão o circo!

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“Para dominar um povo por completo deve destruir a memória desse povo. Como se faz isso? Apagando a memória, a cultura e colocando outra coisa no lugar.”
Nunca é demais lembrar que quem criou o Festival de Jericos foi um professor com um grupo de alunos, pois se dependermos dos políticos para criar alguma coisa nós vamos ter que comemorar o festival de denuncias e desvios, ou a corrida municipal dos fantasmas da Câmara.
Nota-se que a mise en sène da próxima campanha eleitoral, organizada pelo prefeito de Panelas já começou. Graças a isso, o Festival Nacional de Jericos não correu o risco de ser cancelado mais uma vez. É complicado explicar para meia dúzia de incautos que compõem a partidocracia (democracia é outra coisa) da atual Indigestão Municipal o que se esconde por trás das demolições de ambientes históricos do município. Também é muito difícil explicar o porquê de não reforçarem as bases dos artistas municipais nessa festa grandiosa e tradicional. Como escrevo para pessoas inteligentes, vou começar pelas demolições.
O segredo de dominar um povo e manter o poder sobre ele foi ensinado pelo pai da ciência política, Nicolau Maquiavel (1469- 1527). Uma das coisas que se tem que saber sobre este cara é que ele não pensa ou ensina nada sobre a boa gestão, administração competente, desenvolvimento econômico etc., ele simplesmente mostra como dominar, manter poder, ser temido, controlar, mesmo que isso signifique abandonar ou recalcitrar todos os preceitos morais e éticos. Em outras palavras, o que se faz em Panelas hoje.
Maquiavel ensinou que para dominar um povo por completo deve destruir a memória desse povo. Como se faz isso? Apagando a memória, a cultura e colocando outra coisa no lugar. Funciona assim: se o governo anterior levantou uma estátua, o governo atual deve derrubá-la e colocar outra no lugar para que o povo não se lembre da anterior. Apagando a memória dos governados fica fácil manipulá-los, pois a única coisa que torna algo melhor ou pior que a outra é a comparação. Seguindo a linha de Maquiavel, você deve trocar uma praça por outra, deve aterrar um açude, mudar o nome de escolas, mudá-las de um prédio para outro etc., ou seja, o que se faz em Panelas hoje.
No caso das festas populares, como o Festival Nacional de Jericos, o governante deve colocar os artistas locais para parte periférica da festa. Políticos temem artistas. As bandas ditas “conhecidas” são contratadas para ocupar o palco principal, devem ser musica para idiotas e no meio dessas colocar um ou dois artistas que representam a verdadeira cultura. O besteirol deve ser dominante. No meio de várias bandas, por exemplo, você colocaria um Petrúcio Amorim (mas tem que ser no dia dois, no dia principal não pode). Os artistas locais, supertalentosos e competentes, você mandaria para bica, festival de Cerveja etc. Bloqueia um sucesso indesejado, desnutri a cultura local e fortalece o besteirol, colocasse um grande artista no dia dois para não ficar muito na cara. É assim que faz em Panelas hoje.
Lembrando que o plano de fundo de tudo isso é uma terra afetada por problemas com recursos hídricos, falta de emprego, desenvolvimento econômico inexistente e muita, mas muitas obras paradas. O circo é uma distração para quem sente falta do mínimo necessário, o pão em abundância é uma desgraça para quem necessita da fome do outro para promover-se.
Não adianta criticar sem apresentar uma ideia melhor. Sugiro o primeiro Campeonato Brito Lucena de Sanfona para homenagear esse grande compositor panelense. Sugiro que seja feita a primeira corrida em torno da Serra da Bica. Sugiro que as bandas da cidade sejam a abertura de grandes nomes da música nordestina. Wenny Thalys abrindo o show de Petrúcio Amorim no palco principal. Forrozão só alegria abrindo o show de Amazan (quem sabe na próxima) no palco principal e outras bandas da terra tendo espaço. Sugiro que as bandas da terra sejam pagas em dia também. Sugiro refletores que iluminem a serra da bica à noite. Sugiro um plano de fundo menos triste para uma cidade tão rica. Sugiro pão, antes de circo.

Por Pierre Logan


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