“Cidadania é você ter conhecimento de seus direitos e deveres, reivindicando-os sempre que algum representante sonhar em tirá-los de circulação.”
Nacionalismo, patriotismo, civismo e cidadania são palavras que apareceram por diversas vezes, não apenas nas manifestações de rua, como também nos discursos inflamados que percorreram/percorrem as mídias sociais sobre o cenário atual do nosso país. Apesar de semelhantes, cada uma dessas palavras carrega em si valores semânticos distintos, e marcam também o trajeto histórico dos desfiles cívicos em solo brasileiro.
Longe de mim querer transformar esse texto em uma aula de história (até porque não tenho gabarito para tal), mas antes de falarmos sobre a ausência dos desfiles cívicos em Panelas, é importante dimensionarmos a importância desse evento na vivência escolar de qualquer município, principalmente no nosso. As comemorações do dia 7 de setembro surgiram para homenagear o dia da nossa independência, mas precisávamos de uma identidade genuinamente brasileira, pois até então, o que tínhamos era um emaranhado de influências outras, era preciso firmar a identidade de nossa nação, era necessário homogeneizar as diferenças em um nacionalismo ferrenho. Depois, esse espírito nacionalista foi abrindo espaço para um sentimento de orgulho, devoção e amor à pátria e a seus símbolos (bandeira, hino, etc). Peço a você, leitor que, enquanto faço essa breve menção ao passado, vá buscando relacionar essas práticas ao que se vê hoje nas escolas tanto municipais, quanto estaduais.
Continuando, pois ainda preciso localizar o civismo e a cidadania nessa retomada histórica, lá pela década de 1960, houve uma considerável mudança paradigmática nas comemorações do 7 de setembro, o civismo passou a vigorar, ou seja, o respeito aos valores, às instituições, em suma, a defesa de práticas que defendessem a vida em coletividade, o trabalho pela pátria. Por fim, após os reboliços da década de 1980 – caras pintadas, e mais recentemente, as manifestações – vemos a sociedade convergir mais e mais, apesar das diversas anomalias, para o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais de indivíduos que vivem em um Estado possuidor de uma Constituição que contribui para uma sociedade mais equilibrada. Preciso pontuar que minha ideia aqui não é separar esses quatro conceitos em blocos distintos, pois eles estão intimamente ligados, o objetivo de dividir é meramente didático, para que possamos compreender juntos, o que cada uma das palavras (citadas no início do artigo) tem a nos dizer.
Visto isso, podemos agora medir o quanto um ‘simples’ desfile cívico pode simbolizar na vivência de uma sociedade, de uma escola, de um indivíduo. Mas você agora pode estar pensando: “os desfiles de hoje não trazem nada disso, os alunos só querem pontos, dançar e tocar na banda da escola”. Se essa é a realidade dos desfiles atuais, alguma coisa está sendo feita de maneira equivocada nas escolas e no resgate cultural de eventos como este. Diversas cidades da região realizaram as comemorações de 7 de setembro, em Panelas, apenas as escolas particulares, porque as municipais calaram-se em um silêncio ensurdecedor. No dia 3 de setembro a secretária de educação foi à rádio agreste FM justificar a ausência dos desfiles em nosso município, o motivo? A crise pela qual o país está passando. O que mais temo é que essa ‘crise’ da qual tantos falam acabe se tornando o motivo para todos os outros cancelamentos, adiamentos, suspensões que possam vir a acontecer em Panelas.
“Optar por não realizar as comemorações de 7 de setembro é uma péssima estratégia educacional”
Em uma sociedade sedenta de ensinamentos sobre o sentido das quatro palavras ditas lá no início, optar por não realizar as comemorações de 7 de setembro é uma péssima estratégia educacional. Muitos municípios aproveitaram a oportunidade dos desfiles para trabalhar temas de extrema importância, como a “sustentabilidade”, “a educação como o futuro da nação”, “a riqueza natural brasileira”, dentre os mais relevantes ligados à cidadania.
O Brasil precisa começar a abrasileirar a sociedade, por muita das vezes o que parece é que a nossa nação não se identifica com a terra em que nasceu, e isso pode ser empregado a nível municipal também. É preciso começar um trabalho sério voltado à prática de criarmos jovens identificados com o nosso município, panelenses capazes de amar e de lutar pela terra em que nasceram, cidadania é isso, é você ter conhecimento de seus direitos e deveres, reivindicando-os sempre que algum representante sonhar em tirá-los de circulação. Por mais atividades escolares que lembrem isso aos alunos, por mais professores e gestores capazes de formar cidadãos nas escolas do nosso país.
Professora, graduada pela UPE em Letras e
especialização em Ensino de Língua Portuguesa e suas Literaturas.
E membro fundador da Associação Comunitária de São Lázaro (Panelas-PE).