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PANELAS E A RETROALIMENTAÇÃO DA DESGRAÇA

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Publicado em 29/01/2018 | Atualizado em 21/02/2022

O povo de Panelas durante mais de duas décadas se mostrou imune ao método de aprendizagem de ‘tentativa e erro’. Erramos há tempos quando sucumbimos as tendências coronelistas da época e, ainda na década de 90, optamos por permanecer no erro quando, por tortas vias do destino e alguns sacos de dinheiro, alguns conterrâneos chegaram com uma nova cara, uma proposta diferente, o novo se apresentou da maneira mais discreta possível. Essa novidade chamava-se Sérgio Miranda. O povo decidiu apostar no novo e não se arrependeu. Seu primeiro governo surpreendeu as expectativas. Os salários passaram a ser pagos em dia, até os produtos dos mercados pareciam estar mais baratos. Como sempre, o povo de Panelas não observou o quadro geral. Desta forma, não percebeu que o Plano Real tinha reorganizado a economia de todo país e isso afetou o município. Poucos desconfiam, mas o município das Panelas está situado no Brasil. O fato é que o tal prefeito ficou com o mérito e, por causa de uma oposição improdutiva, silente, complacente e mentirosa, o povo não conheceu a verdade dos fatos. Com isso o jovem político (que nem era tão jovem assim) foi reeleito.

A desconfiança é uma das minhas melhores qualidades. A maioria dos companheiros da minha terra natal não tem, infelizmente, a inclinação para desconfiança. Ninguém nunca parou para pensar que a alternância de poder tem uma razão para existir. O poder emana do povo, mas deve ser entregue a um representante eleito pela maioria, para que esse escolhido, recebendo tal honra, faça jus a vontade do povo que lhe confiou tal poder. O problema é que está intrínseco ao espírito humano sentir-se dono de tudo aquilo que está em seu poder por muito tempo. Isso ocorre com objetos, pessoas e com o próprio poder. O tal já não tão jovem político, sentiu-se dono do poder e passou a utilizá-lo como melhor lhe aprouvesse. Panelas começou então a ser alvo de uma enxurrada de processos (inclusive criminais), recomendação de rejeição de contas, burla de licitação; enfim, recursos, dinheiro público e pilhas e pilhas e pilhas de papeis passavam pelo Egrégio Tribunal de Contas, mas no final das contas sempre caiam nas mãos dos vereadores, a maioria correligionários do prefeito. Cada vez mais se confirmava a intocabilidade da figura que ocupava o município. Observando a frouxidão moral de seus pares, o preço de suas lideranças, a carência da população e a oportunidade; ele descobriu uma maneira de se manter eternamente no poder: retroalimentando a desgraça.

No início do primeiro parágrafo deste texto eu disse que a nossa população é imune ao método de aprendizagem de ‘tentativa e erro’, voltemos ao ponto por algumas linhas para tratar disso. A dor da queimadura faz com que aprendamos a manter distância do fogo ou objetos que queimam. Quando batemos com a cabeça no teto do carro, isso nos deixa alerta para, da próxima vez, nos abaixarmos um pouco mais ao entrarmos no veículo. Em suma, é biologicamente implantado em nós a capacidade de aprendermos com erros. Se não está dando certo de tal maneira, mudamos a maneira de agir para que acertemos. Estupidez, dizia Arbert Einstein, é fazer a mesma coisa sempre e esperar um resultado diferente. Percebendo isso, aquele que era chefe do executivo desenvolveu um esquema que prendia as pessoas a ele através do bolso e, consequentemente, ao sustento da família ou do ego ostentador dos que se aliavam a ele. Fazendo com que anestesiassem a capacidade de percepção do que seria o certo e o errado. Essa forma de provocar o “não aprender com os erros” foi o epicentro da filosofia sergianista de retroalimentação da desgraça, pois sem esse ‘defeito’ implantado na sociedade não seria possível enganar o povo por muito tempo.

Um segundo elemento para retroalimentar qualquer coisa é um ciclo vicioso implantado nas pessoas. Acompanhe meu raciocínio. Você cresce num lugar onde não se pode crescer mais que determinado cargo do funcionalismo público. Todos que você conhece que deram certo financeiramente na vida se comportaram exatamente da mesma maneira. Você não consegue vislumbrar dentro daquela panela de três serras outra chance de ‘vencer na vida’. Muita gente sai e volta melhor, mas nunca fica. Você olha para os lados e não consegue entender, realmente não consegue encontrar padrões de referências de sucesso que não tenham empregos ou parentes empregados e agarrados nos cabides públicos. Ouve pessoas dizendo: “fique quieto, caso contrário, não arrumará emprego na prefeitura”. Você passa a nivelar sua vida por baixo e agora um emprego, sem carteira assinada, sem direitos trabalhistas, e que não cobra nenhuma capacidade especial sua, é seu modelo de sucesso. Quem tem isso fica na cidade. Quem não tem isso não fica. Você conheceu outra realidade, mas já faz tanto tempo que nem se lembra como era sua vida antes disso. Então seu filho nasce, cresce ouvindo você repetir as mesmas coisas e vendo você viver dessa forma, hoje seu filho tem 25 anos de idade e o governo ainda é o mesmo de quando ele nasceu. Como ele pode escolher se nunca conheceu outra coisa? Como ele pode comparar esse modelo com outro qualquer para desta forma exercer seu livre arbítrio consciente? Não pode. Simples assim.

Então a coisa começa a piorar. Você concordará comigo que se alguém tenta ser bonito é porque não o é. Ninguém que é belo tenta ser belo. Esse alguém é e ponto. Se alguém tenta ser bom em alguma coisa é porque sabe que no fundo não é bom nessa coisa. Um raciocínio simples. O que é, é; não tenta ser. O que tenta ser, só tenta ser porque não é. Vencido esse ponto, pense comigo; se alguém busca a felicidade é porque não a tem, se alguém quer mais dinheiro é porque acha que não tem o suficiente, se alguém quer saber de algo é porque não sabe e se alguém quer progresso é porque não tem o progresso. Nos discursos dos políticos municipais você sempre ouve eles dizendo que querem manter algo que não têm, que querem melhorar algo que ainda não existe e que Panelas tem algo que ainda precisa conseguir. Um paradoxo. Uma confusão mental criada propositalmente para confundir e amarrar a população num raciocínio que começa, mas não tem fim. Algo já demonstrado no livro de George Orwell, A revolução dos bichos. Um ciclo que se retroalimenta.

Ao lado disso é criado uma cultura de massa hipócrita que apenas salienta e faz apologias a vícios, bebedeira e uma felicidade que precisa aumentar o volume a ponto de acordar o vizinho que não está nem aí para sua esquizofrenia felicitóide exibicionistamente ridícula. As pessoas passam a gritar, fazer escândalos com copos cheios de ‘coragem’ líquida porque acham que estão comemorando alguma coisa boa, quando estão inconscientemente promovendo algazarras, festas e gritarias para não ouvir a própria voz da consciência dizendo: “você é um merda, você é somente mais um merdinha fracassado e está fazendo de tudo apenas para chamar atenção”. Confundem facilmente em suas cabecinhas cada vez mais ocas euforia com felicidade verdadeira. As meninas, coitadas, não tendo macho suficiente para olhar nos olhos delas e dizer a verdade, introjetam em si o desejo de mostrar as únicas partes do corpo de uma mulher que homens desse tipo são capazes de olhar e passam a aparecer nos vídeos de costas mostrando a única parte que chama atenção de homens pervertidos pela própria fraqueza. Apenas uma das duas cabeças ainda funciona com sua real finalidade. Perdidos pensando que estão achados nessa cultura de retardado, os cidadãos (maioria) passam a pensar: tenho um trabalho (o que é diferente de emprego), tenho bebida e sexo. Tudo está bem então. E é esse tipo de cultura bem regada por bebida gratuita e epilepsias ideológicas provincianas que guiarão as passeadas das próximas eleições. Beba, grite, rebole, faça sexo, barulho; faça qualquer coisa, mas não pense, pois se pensar, não seguirá o atual governo.

Se acha que isso é teoria da conspiração sem nexo, mostre a ultima safra literária promovida pela Secretaria de Cultura do Município. A safra musical dos últimos artistas financiados ou apoiados pelo desgoverno (se houver) falam de quê? Qual a produção intelectual, cultural e artística que temos hoje? Por que cargas d’água somos meros consumidores de cultura mineira, baiana, carioca, mas nunca produzimos nada? Por que temos artistas covardemente sufocados e entregues a bebedeira que não tem culhões para investir contra um governo que não os ajuda? Os que tem coragem acabam caindo fora e não mais voltando. Temos bons exemplos disto.

Construímos sim um sistema político com políticos, mas a sociedade é construída por leis e costumes. Os costumes fazem parte do consciente e inconsciente coletivo. Esse inconsciente está impregnado pelo desejo de ter o que não se tem e de manter o que acha que está bom. Quando o indivíduo pensa como indivíduo, preocupando-se em como suas ações podem afetar o coletivo, então se está construindo uma sociedade solidária e justa. Quando o indivíduo pensa apenas em si mesmo e baseia-se em fundamentos egoístas para tomar decisões que lhe promovem alegrias em detrimento do sossego da comunidade, cria-se uma sociedade mal-educada, demagoga, hipócrita e fadada ao fracasso. Eu não acho que Panelas é uma cidade “pacata e ordeira”. Panelas é uma cidade violenta, com uma história de violência; uma cidade modernamente hipócrita cheia de gente com nariz empinado e metida a besta comprando coisas que não quer, com dinheiro que não têm, para agradar gente que não conhece e provar que é alguma coisa que não é. Isso tudo tem seu cerne na política acreditem ou não. Porque quem escolhemos para nos representar representa a imagem legítima do que o povo forma em sua maioria. Se você reelege um corrupto incompetente, você está sendo representado por um corrupto incompetente e é através dessa figura que julgarão o povo que o elegeu. Por isso chamo de retroalimentação, porque retroalimentar alguma coisa significa que não há movimento partindo de um só lado, mas respostas que se comunicam de um lado para outro, indo e voltando em um ciclo fechado. E como já falei em outro texto deste site: “Panelas não anda para frente. Panelas anda em círculos. Por essa e outras razões é de bom alvitre que não andemos em rebanhos, pois os que vivem em rebanhos acham que estão sendo bem alimentados pelo cuidador ou guiados pelo vaqueiro que os ama, quando na verdade estão aguardando o abate, pois somente o abate enriquece o dono do rebanho.

Coluna Política // Por Pierre Logan

Formando em Direito, Licenciando em filosofia, possui formação em Direito Eleitoral, Administrativo, Fundamentos do Direito Público, Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente atua na área jurídica e também é colunista do Jornal SP em notícias. Contato: [email protected] 


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