Publicado em 30/06/2014 | Atualizado em 21/02/2022
É muito comum encontrar pessoas que estufam o peito e sentem orgulho de si ao dizer para os amigos e familiares: “Não me envolvo em política!”. É ainda mais comum ouvir pessoas repetindo chavões (muitas vezes imbecis) e propagando estupidez sem questionar ou fazer o mínimo esforço para entender o que está dizendo. Uma das frases mais ridículas e conhecidas pela maioria da população é: “Religião e política não se discute!”. Vamos exercitar um pouco nossos cérebros e nos preparar para questionar nossos próprios paradigmas. É hora de ouvir os ventos da mudança e assumir que “corruptos não caem do céu”. São eleitos.
“Corruptos não caem do céu. São eleitos”
O professor da PUC/SP, Sérgio Cortella e o professor da USP, Janine Ribeiro, escreveram o livro: Política: para não ser idiota. Neste livro, conversam e explicam sobre os conceitos, os problemas e a importância da política na vida do cidadão. Mais do que uma simples explicação de termos técnicos e científicos sobre filosofia e política, esses dois filósofos mostram a importância crucial do envolvimento e da participação do indivíduo na mesma. E se você é desses que não gostam de se envolver em política; cuidado, pois você pode andar por aí se comportando como um idiota.
Para começar vamos retomar o conceito original de idiota. Em grego, a expressão idiotés, “significa aquele que só vive a vida privada”, aquela pessoa que vive fechada dentro de si. O idiota é aquele que não se preocupa com nada além do próprio nariz. Para os gregos, participar da vida e das decisões do coletivo era obrigação das pessoas que viviam naquela sociedade. Temos que lembrar que a palavra política tem origem na palavra grega polis, ou para ser específico politikós, que se refere ao urbano, ao que é civil e social, ao que é público, em outras palavras, relaciona-se diretamente com a cidade e a tudo o que lhe diz respeito. Esse é o significado de política, mas hoje há uma inversão desse conceito, e geralmente tomamos como algo ruim, corrupto e desprezível. Essa inversão de conceito acaba nos afastando do verdadeiro objetivo da política que é buscar, democraticamente, o que é melhor para cidade, em nosso caso, Panelas. Quando abandonamos o objetivo maior, que é o bem comum, e passamos apenas a nos preocupar com nossas próprias vidas (e somente com elas), acabamos nos tornando um idiota.
“O objetivo da política que é buscar, democraticamente, o que é melhor para cidade”
Vamos tomar como exemplo, para fazer uma análise, a frase que muitos usam para fugir da responsabilidade de opinar, discutir e escolher. “Não me envolvo em política!” é uma das expressões mais usadas. Nem precisamos nos esforçar para perceber que “quem não se envolve no debate está automaticamente comprometido com a omissão”, ou nas palavras do próprio Cortella; “os ausentes nunca tem razão”. É como se as pessoas que “não se envolvem em política” não percebessem que às vezes a omissão afeta mais diretamente suas vidas. Escolhem não se envolver em política o que paradoxalmente é a “política do escolher”. Portanto quando alguém lhe disser que “prefere não se envolver em política”, além de estar se envolvendo na “política do não se envolver em política”, está também firmando um compromisso com a omissão. Sem chance, sem voz, e consequentemente, sem razão.
Quanto a: “religião e política não se discute”? Quer dizer que se seu vizinho decidir sacrificar seu filho, porque acredita que isso levará todos para o céu, você não vai discutir? Se a câmara de vereadores de Panelas convocar uma assembleia, para decidir se vão ou não confiscar sua casa para demolir e fazer um banheiro público, você ainda não vai se meter em política? O exemplo parece absurdo, mas é basicamente a mesma coisa. Vamos por partes.
Religião se discute sim, o que não se discute é a Fé. Essas palavras podem ser confundidas, mas não são sinônimas. Etimologicamente, os autores da antiguidade, ligados ao cristianismo defendiam que a origem da palavra latina era “religare”, ou seja, a ideia de religião é aquela que religaria os homens entre si e principalmente a Deus. Essa etimologia foi posteriormente contestada e, num âmbito geral, a religião é a institucionalização de um sistema de crenças e dogmas baseado no culto de uma divindade ou em forças sobrenaturais (Regina Schopke). Em outras palavras: o que você acredita é indiscutível (FÉ), mas quando parte para o plano físico, da ação, do que pode ou não fazer para alcançar aquilo que acredita, (religião) é discutível. Já a política é geralmente confundida com política partidária, o que é um erro tão comum quanto o anterior.
Se julgarmos a política apenas por seu lado mais tenebroso, nunca vamos vislumbrar o todo desse riquíssimo sistema. Porque assim como Religião não é sinônimo de fé, corrupção não é sinônimo de política. O que nos leva a perceber o erro que cometemos e nos damos conta de que para haver corrupção é preciso que haja corruptos e corruptores. Não existe um corrupto “no isolamento”. Ninguém consegue subornar se não houver quem aceite o suborno. Percebendo isso podemos começar a nos sentir mais responsáveis pelo governo que elegemos. Se você escolheu não participar do debate achando que isso lhe deixará isento de responsabilidade, além de está sendo um “idiotés”, você está fazendo aquilo que o humanista e filósofo francês, La Boéte (1530- 1563), chamou de “servidão voluntária”. Porque não se envolvendo no debate, concordou com tudo.
“Conviver é o mais político dos atos”
Fazer política é conviver com as diferenças e respeitar as opiniões que divergem das nossas. Segundo Maquiavel é a “continuação da guerra por outros meios”. O que, a meu ver, é mais inteligente, já que é bem mais fácil chegar a um acordo conversando do que com milhões morrendo no campo de batalha. A política permite o “desenvolvimento das potencialidades da democracia”. Um dos grandes erros que nós panelenses cometemos durante a campanha eleitoral é acreditar que a opinião de nosso adversário também não é legítima. Temos que “aprender a ouvir o que ele disse, em vez de contestar o que apenas imaginamos que ele falou. Nosso debate é pobre, porque se faz caricatura do adversário”. Lembre-se que a política partidária é apenas um dos modos de fazer política. Fazemos política na escola, no trabalho, em casa, no bairro, na padaria e assim por diante. O importante é que aprendamos a lição que foi dada por esses grandes mestres: Conviver é o mais político dos atos.
Coluna Política // Por Pierre Logan
Formando em direito na FMU, formação em
Filosofia Geral, Fundamentos do Direito Público,
Ciência Política e Teoria Geral do Estado.
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Escuto está mesma frase sobre não discutir política e religião, desde minha mais tenra idade. Minha mais modesta opinião, na minha infância era que se assumisse que não discutiriam isso, teria que obedecer alguém que discutia. Cresci, li o princípio filosófico e a minha opinião ficou mais forte. Quando decidirmos não pensar sobre algo, deixamos que alguém pense pela gente. E esse alguém vai fazer o que ele quiser.
Se a política é a “continuação da guerra por outros meios”, então não discuti-la é o mesmo que desertar e isso é coisa de covarde.